O Banco Itaú, no início desta semana, demitiu cerca de mil funcionários que trabalhavam em regime de Home Office. A instituição financeira monitorava a produtividade destes funcionários e chegou à conclusão de que os colaboradores não exerciam suas funções durante todo o expediente remoto. Em nota, o banco disse as demissões foram motivadas por “uma revisão criteriosa de condutas relacionadas ao trabalho remoto e registro de jornada.” E mais: “Em alguns casos, foram identificados padrões incompatíveis com nossos princípios de confiança, que são inegociáveis para o banco. Essas decisões fazem parte de um processo de gestão responsável e têm como objetivo preservar nossa cultura e a relação de confiança que construímos com clientes, colaboradores e a sociedade.”
Na prática, o Itaú colocou uma pedra de cal na prática do Home Office, que já estava caindo em desuso. E descortinou um segredo de polichinelo: muitos funcionários simplesmente não trabalham quando estão fora do escritório (embora existam vários outros que registram índices de produtividade iguais aos observados nos escritórios físicos).
Paradoxalmente, estudos da Fundação Dom Cabral revelam que 58% dos profissionais se consideram mais produtivos ou significativamente mais produtivos no home office, embora muitos relatem queda no bem-estar e dificuldades para equilibrar vida pessoal e profissional.
Já a Universidade de Stanford aponta que, apesar da popularidade do trabalho remoto, a produtividade pode cair em certos contextos, especialmente devido à redução da colaboração espontânea, problemas de comunicação e isolamento social. Esses dados mostram que o impacto do Home Office na produtividade varia conforme o perfil do trabalhador e a estrutura organizacional.
O trabalho remoto, assim, não é uma fórmula que vale para todo mundo. Mas tem suas vantagens. Em uma cidade como São Paulo, apenas uma minoria tem o privilégio de morar perto de onde trabalha. Na maioria esmagadora dos casos, a residência fica a pelo menos uma hora de distância dos escritórios.
Vamos aos números.
Segundo a pesquisa “Viver em São Paulo”, realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ipec, os moradores da capital paulista gastam em média 2 horas e 25 minutos por dia em deslocamentos para diversas atividades. Quando se trata apenas do trajeto até a atividade principal — como o trabalho — esse tempo cai para 1 hora e 38 minutos. O transporte coletivo é o mais demorado, com média de 1h59, enquanto quem se desloca de carro leva cerca de 1h38. Esses dados revelam o impacto significativo do trânsito na rotina dos paulistanos, especialmente para quem depende de ônibus, metrô ou trem.
A pesquisa também mostra variações importantes entre as regiões da cidade. Moradores da zona sul enfrentam os maiores tempos de deslocamento, com média de 2h46 por dia, seguidos pelas regiões central (2h23), oeste (2h21), leste (2h15) e norte (2h11). Esses números evidenciam como a infraestrutura urbana e a distribuição dos empregos influenciam diretamente a qualidade de vida e o tempo disponível para outras atividades.
O Sindicato dos Bancários de São Paulo, evidentemente, chiou diante das demissões realizadas pelo Itaú. E soltou uma nota na qual disse o seguinte: “Apenas no último semestre, o Itaú obteve lucro superior a R$ 22,6 bilhões, com rentabilidade em alta, consolidando-se como o maior banco do país em ativos. É inaceitável que uma instituição que registra lucros bilionários promova demissões em massa sob a justificativa de ‘produtividade’.”
Produtividade, porém, não é um luxo para as companhias — é obrigação. Toda empresa, lucrativa ou não, precisa manter o foco nisso. O problema é que, quando os números estão positivos, muita gente relaxa. E aí começa a tolerância com o que não deveria ser admitido: falta total de comprometimento. Só que, nesse caso, o problema não era só falta de entrega. Era, isso sim, má-fé. Muitos dos demitidos estavam simplesmente fingindo que trabalhavam. Simulavam atividade, registravam ponto, mas na prática estavam ausentes. Isso, dentro de qualquer lógica ética empresarial, é um ponto de ruptura. Difícil de admitir, mas impossível de ignorar.