A ata do FOMC referente à reunião de 29 e 30 de julho de 2025 confirmou a decisão de manter a taxa básica de juros na faixa de 4,25% a 4,5%. O documento mostrou que, apesar da desaceleração da atividade econômica no primeiro semestre, a preocupação com a persistência da inflação, em especial os efeitos das tarifas sobre os preços, segue predominante entre os dirigentes do Federal Reserve.
O texto também revelou divergências internas: dois membros votaram pela redução de 0,25 ponto percentual. Para eles, a inflação, excluindo o efeito das tarifas, já se aproxima da meta de 2%, enquanto sinais de menor dinamismo no mercado de trabalho justificariam uma flexibilização gradual da política monetária.
Quais foram os principais pontos destacados na ata?
A ata trouxe uma avaliação detalhada sobre inflação, mercado de trabalho e atividade econômica. Entre os pontos de maior destaque:
- A inflação geral permaneceu em 2,5% no acumulado de 12 meses, enquanto a inflação básica foi estimada em 2,7%.
- A taxa de desemprego recuou para 4,1% em junho, mas houve sinais de menor crescimento na folha de pagamento privada.
- O PIB voltou a crescer no segundo trimestre após queda no primeiro, com contribuição positiva das exportações líquidas.
- As tarifas foram vistas como fator de pressão inflacionária, com repasses graduais aos preços finais.
Preocupação maior com a inflação
De acordo com a ata, “a maioria dos participantes avaliou que o risco de alta para a inflação é mais relevante do que o risco de baixa para o emprego”. Nesse sentido, mesmo reconhecendo a desaceleração da atividade e do consumo, os dirigentes consideraram que ainda não há clareza suficiente para iniciar um ciclo de cortes mais agressivos. A expectativa é de que os efeitos das tarifas sobre os preços levem tempo para aparecer de forma plena nos dados.
Além disso, o documento enfatizou a “necessidade de manter as expectativas de inflação de longo prazo ancoradas, ponto considerado essencial para preservar a credibilidade da política monetária“. Alguns dirigentes destacaram que, caso a inflação persista acima da meta, será preciso manter a política restritiva por mais tempo.
Análises do mercado sobre a ata
Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, a ata mostrou um Fed mais atento à evolução dos preços do que ao mercado de trabalho. “Não houve consenso, mas em geral, os dirigentes parecem mais preocupados com a inflação e os riscos associados às tarifas do que com a desaceleração da atividade. Essa leitura não reforça a ideia de cortes agressivos de juros defendida por alguns agentes de mercado”, afirmou.
Já Andressa Durão, economista do ASA, avaliou que o documento reproduziu o tom de Jerome Powell na coletiva, destacando o viés altista da inflação. “A ata reforça que, se a inflação se mostrar persistente ao mesmo tempo em que o mercado de trabalho se enfraquece, o Fed avaliará qual variável está mais distante da meta. Por ora, acreditamos que o risco para o emprego deve pesar mais na decisão de setembro, com espaço para um corte de 25 pontos-base”, disse.
O que esperar para as próximas reuniões e o que acompanhar até lá?
Os dirigentes reforçaram que as decisões futuras dependerão dos dados recebidos, especialmente sobre inflação e emprego. Nesse contexto, a reunião de setembro ganha ainda mais relevância. Caso os próximos indicadores confirmem enfraquecimento do mercado de trabalho, cresce a probabilidade de um corte de juros. Por outro lado, se as tarifas continuarem pressionando os preços, a política pode permanecer mais restritiva.
- Indicadores-chave: PCE (cheio e núcleos), criação de empregos, salários, JOLTS e métricas de serviços (alojamento, saúde e “supercore”).
- Dinâmica de tarifas: velocidade de repasse e efeitos sobre cadeias de suprimento.
- Condições financeiras: spreads, VIX, breakevens, acesso ao crédito e inadimplência.
- Liquidez e operações: evolução do TGA, reservas bancárias, uso do SRF e ON RRP.
Qual é a sinalização de política daqui para frente?
Quase todos os dirigentes preferiram manter a faixa-alvo atual, com continuidade do runoff do balanço. Alguns observaram que a taxa atual talvez não esteja muito acima do nível “neutro”, dado que as condições financeiras amplas podem estar neutras ou até ligeiramente acomodatícias. O Comitê ressalta que o balanço de riscos segue bimodal: se a inflação (e as expectativas) surpreender para cima, a postura deve permanecer mais restritiva; se o emprego enfraquecer de forma material e a inflação recuar, abre-se espaço para calibrar cortes.
A mensagem central é de cautela: o Fed sustenta a restrição atual enquanto coleta evidências sobre a trajetória da inflação sob tarifas e sobre o fôlego do emprego. A assimetria dos riscos segue ditando o ritmo e os próximos dados dirão se a curva abre espaço para o primeiro corte do ciclo no 3º trimestre.