O cenário de juros no Brasil segue como um dos principais pontos de debate no mercado financeiro. Em entrevista à BM&C News, o economista Sérgio Machado, gestor da MAG, analisou a trajetória da Selic, a postura do Banco Central e os impactos do ambiente externo, especialmente em relação às decisões dos Estados Unidos. Para ele, ainda é cedo para pensar em cortes significativos na taxa básica.
Machado destacou que, embora parte dos analistas comece a especular sobre uma possível redução ainda neste ano, a maioria do mercado projeta cortes somente a partir de 2026. Nesse sentido, o economista reforçou que a autoridade monetária deve manter cautela, principalmente porque a inflação ainda apresenta pontos de pressão.
Há espaço para corte de juros em 2025?
Questionado sobre a possibilidade de o Banco Central reduzir a Selic no fim de 2025, Machado reconheceu que já existe uma corrente minoritária que levanta essa hipótese. “Ainda que se fale em dezembro, acreditamos que é prematuro. A inflação segue pressionada e a lição de casa não foi totalmente feita”, afirmou.
Ele ressaltou que o comportamento do câmbio tem ajudado a reduzir parte das expectativas inflacionárias. “O real tem se mantido relativamente estável na faixa de R$ 5,50 por dólar nos últimos dois meses. Isso ajuda a segurar a inflação e melhora a percepção de médio prazo”, explicou. Contudo, esse fator por si só não garante espaço seguro para uma queda antecipada dos juros.
Como a postura do Banco Central influencia o cenário?
Machado elogiou a atuação recente do Banco Central sob a gestão de Gabriel Galípolo. Segundo ele, a instituição tem se mostrado firme ao evitar pressões por cortes prematuros. “É louvável a postura conservadora e responsável. A comunicação clara transmite conforto em um ambiente global conturbado”, destacou.
Por outro lado, ele observou que qualquer sinal de flexibilização antes da hora poderia gerar ruídos e perda de credibilidade. “Imagine se, em meio a um cenário de volatilidade externa, o Banco Central entrasse no oba-oba do mercado. A decisão de só baixar após entregar resultados sólidos é a mais correta”, disse.
Qual o peso do cenário internacional nos juros brasileiros?
O gestor lembrou que a política monetária no Brasil não pode ser analisada de forma isolada. As decisões do Federal Reserve (Fed) e o impacto do tarifaço anunciado pelos Estados Unidos são variáveis que influenciam diretamente a economia brasileira. “O lado externo ainda é um fator de muita dúvida. Um eventual corte de juros nos EUA pode mexer no fluxo de capitais e pressionar nosso câmbio”, analisou.
Além disso, os efeitos do tarifaço sobre as exportações brasileiras permanecem incertos. “Ainda não sabemos qual será a dimensão desse impacto no nível de atividade e nos preços internos. Essa incerteza reforça a necessidade de cautela”, completou.
O que esperar dos próximos passos da política monetária?
De acordo com Machado, os próximos meses devem ser marcados por vigilância e prudência. A estratégia do Banco Central, de manter os juros em patamar elevado até que os indicadores confirmem uma trajetória sustentável de queda da inflação, continua sendo a mais adequada.
- A inflação ainda apresenta focos de pressão interna.
- O câmbio estabilizado em torno de R$ 5,50 ajuda, mas não resolve.
- O ambiente internacional traz incertezas adicionais, como o tarifaço.
- A comunicação do BC reforça credibilidade e segurança.
Enquanto isso, o mercado deve continuar atento às declarações oficiais e aos dados econômicos que embasam as decisões da autoridade monetária. “O corte de juros pode acontecer, mas só depois que os fundamentos confirmarem que é seguro. Antecipar movimentos seria arriscado”, concluiu Sérgio Machado.
Em resumo, a análise do economista-gestor reforça que a combinação de fatores internos e externos mantém a necessidade de cautela. O câmbio ajuda, mas a inflação resiliente e as incertezas globais indicam que os juros devem permanecer em níveis elevados por mais tempo, garantindo estabilidade e previsibilidade ao sistema financeiro brasileiro.
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