A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acendeu um novo sinal de alerta no mercado financeiro. A medida judicial foi tomada após o ex-presidente descumprir restrições anteriores, como o uso de redes sociais e o veto à comunicação com autoridades estrangeiras, incluindo embaixadores.
O episódio, segundo especialistas, amplia a aversão a risco dos investidores em relação aos ativos brasileiros, em um momento de elevada tensão no cenário externo, marcado pela iminência da entrada em vigor das novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, prevista para esta quarta-feira, 6 de agosto.
Dólar pode subir e ativos devem sofrer, após episódio de Bolsonaro
Para Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, o ambiente político e econômico brasileiro se torna ainda mais desafiador após a decisão do STF. “Sem sombra de dúvidas, esse é um cenário que aumenta muito a aversão a risco aos ativos brasileiros, dado o nível de incertezas, principalmente em relação às medidas tarifárias“, afirma.
Moreira destaca que o mercado vinha de uma expectativa mais positiva, após o anúncio de exceções nas tarifas americanas, mas com a intensificação da crise institucional no Brasil, esse cenário se deteriora. “Agora o mercado entra num compasso de espera para entender se haverá mudanças nas tarifas que entram em vigor, se haverá retaliações“, avalia.
Crise institucional atrapalha negociação com os EUA
Outro ponto central para o mercado é a perspectiva de diálogo entre os governos de Brasil e Estados Unidos. Para o gestor, a prisão domiciliar de Bolsonaro enfraquece ainda mais a já frágil comunicação bilateral. “A realidade é que não tivemos uma comunicação clara que pudesse nos aproximar de um acordo entre os dois países. E agora, aparentemente, estamos ainda mais distantes disso“, afirma Moreira.
Essa dificuldade nas tratativas afeta diretamente setores estratégicos da economia brasileira, como o agronegócio. Produtos como café e carne, que ficaram de fora da lista de exceções tarifárias, poderiam ser incluídos em uma eventual negociação. Com o agravamento do cenário político interno, esse tipo de avanço se torna ainda mais improvável no curto prazo.
Prisão e Bolsonaro e as reações do mercado
Com o cenário mais volátil, os ativos de risco brasileiros podem sofrer nos próximos dias. “Consolidando todo esse quadro, o resultado é um aumento da incerteza que pode levar o dólar a subir e os ativos brasileiros a serem precificados de forma negativa“, alerta o gestor da WMS Capital.
A prisão domiciliar de Bolsonaro também reforça as divisões políticas no país e tende a aumentar o clima de instabilidade institucional, o que afasta o capital estrangeiro e pressiona os indicadores de confiança. A percepção de risco país pode voltar a subir, afetando desde o fluxo cambial até os juros futuros.
Tensão política se soma ao protecionismo dos EUA e pressiona mercado
A decisão do STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro acontece em um momento delicado para o Brasil no cenário internacional, especialmente diante das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos. Para os investidores, é necessário cautela, devido a dose adicional de incerteza.
Enquanto o governo brasileiro tenta articular respostas políticas e jurídicas, o mercado já reage ao novo capítulo da crise institucional com maior cautela. Em meio ao ruído político, os analistas alertam que a agenda econômica pode perder ainda mais espaço e isso tende a ter um custo alto para o Brasil.