Faltam poucos dias para o início do tarifaço anunciado pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros, e o cenário diplomático permanece paralisado. As negociações entre Brasil e EUA praticamente não avançaram, o que acende o alerta para consequências graves na economia nacional, especialmente em setores exportadores estratégicos.
Na avaliação do economista e doutor em Relações Internacionais, Igor Lucena, o impasse deixou de ser uma questão puramente econômica e passou a ser um problema geopolítico. “O Brasil criticou abertamente os Estados Unidos em diversos momentos, desde o dólar até o próprio presidente Trump. E isso teve custo. Hoje, estamos pagando por uma diplomacia baseada em ideologia e em uma visão do século passado”, afirma.
Por que as negociações do tarifaço estão travadas?
Segundo Lucena, o governo brasileiro adotou uma postura equivocada ao alinhar-se geopoliticamente à China, mesmo sem que a China exigisse isso, e usou o grupo dos BRICS como plataforma para criticar o dólar e propor alternativas de desdolarização. “Enquanto a Índia fecha acordos comerciais com os EUA e a China avança silenciosamente em negociações estratégicas, o Brasil se isolou, apostando em um multilateralismo que já não encontra respaldo no cenário atual”, explica.
Para o especialista, o presidente Lula não demonstra interesse real em negociar. “Se quisesse, já teria ligado pessoalmente para Trump. Mas há o medo de se submeter a uma ‘humilhação’ política. O problema é que, ao não negociar, o Brasil se torna irrelevante”, alerta Lucena.
Quais os impactos econômicos do tarifaço esperados?
A aplicação das tarifas norte-americanas pode causar efeitos profundos e imediatos. O estado do Ceará, por exemplo, tem 45% das suas exportações destinadas aos EUA. “Isso é gravíssimo. Já há rumores de que empresas como a Embraer podem demitir e que a Taurus pode encerrar operações no Brasil, focando apenas no mercado americano”, relata o economista.
Além disso, a falta de reação efetiva por parte do governo brasileiro poderá prejudicar o andamento de outros acordos comerciais. A União Europeia, após fechar parceria com os Estados Unidos, já não vê o acordo com o Mercosul como prioridade, o que fortalece países europeus contrários ao tratado, como a França.
O que poderia ser feito para evitar o colapso?
Lucena acredita que o Brasil ainda pode reverter parcialmente o cenário, desde que mude sua estratégia externa imediatamente. Algumas sugestões incluem:
- Retomar o diálogo direto com os Estados Unidos em alto nível
- Evitar discursos ideológicos em fóruns internacionais
- Oferecer acesso a mercados estratégicos, como o de recursos naturais raros
- Fortalecer a diplomacia econômica e regulamentar a atividade de lobby
“Estamos em um mundo de ‘carrots and sticks’. Os EUA estão usando o stick, e o Brasil não tem nenhuma carrot para oferecer. Se o país quiser proteger seus empregos e empresas, vai ter que agir, mesmo que isso signifique se humilhar politicamente”, enfatiza Lucena.
Enquanto isso, a data de início das tarifas se aproxima, e Brasília permanece paralisada, apostando em discursos de soberania ao invés de ações concretas. “Isso não é soberania. Isso é passividade. E ela terá um preço alto para o país”, conclui o economista.