O economista Pedro Paulo Silveira afirmou, em entrevista à BM&C News, que o Brasil vive uma crise fiscal sustentada por falta de sinceridade política. Segundo ele, embora o ajuste fiscal seja amplamente reconhecido como necessário, nenhum dos Três Poderes assume de fato o custo político das medidas impopulares, como cortes de gastos ou revisão de privilégios.
“Todos sabem que o problema é fiscal, mas ninguém quer tocar nele. O Executivo gasta, o Legislativo aprova mais despesas e o Judiciário se omite”, afirmou Silveira, ao destacar que o atual impasse só será rompido com uma crise de mercado ou pressão popular mais intensa.
Política fiscal comprometida por aumento do salário mínimo
Silveira criticou duramente a condução da política fiscal por parte do governo federal, especialmente a decisão de conceder aumento real do salário mínimo, indexando automaticamente parte das despesas previdenciárias. “Foi um erro grave. Essa medida isolada teve impacto explosivo sobre a estrutura fiscal”, avaliou.
Para ele, o governo criou um problema político e orçamentário. “Do ponto de vista fiscal, o estrago já está feito. E não há como voltar atrás sem pagar um custo político altíssimo.”
Congresso resiste a ajustes fiscais e mantém gastos elevados
Na avaliação do economista, o Congresso também tem culpa direta no desequilíbrio orçamentário, ao manter níveis elevados de emendas parlamentares. “Cortar essas despesas seria um gesto sério de responsabilidade fiscal, mas não há disposição para isso. O Legislativo prefere jogar a conta no colo do Executivo”, afirmou.
Silveira classifica esse comportamento como parte do jogo político, mas alerta que ele compromete ainda mais a credibilidade fiscal do país.
Estrutura fiscal brasileira ignora o Judiciário
O economista também aponta que o Judiciário está fora do debate fiscal, mesmo sendo responsável por um volume considerável de gastos. “Não há pressão sobre o Judiciário. Ele não participa da discussão, não corta, não recua. Está blindado.”
Para Silveira, o Brasil só vai encarar um ajuste fiscal sério se for forçado por um choque de credibilidade: ou através de um colapso nos mercados, com alta nos juros e no dólar, ou por meio de mobilização social. “A estrutura está em xeque, mas ninguém age. Enquanto não houver um gatilho externo, seguiremos nesse impasse indigesto”, concluiu.