A recente desvalorização do real diante das tensões geopolíticas no Oriente Médio voltou a colocar em evidência a vulnerabilidade da economia brasileira a choques externos. O fortalecimento do dólar em períodos de aversão ao risco tem provocado fuga de capitais de países emergentes e, segundo o professor de Negócios Internacionais da PUC-PR, João Nyegrey, o Brasil precisa se preparar melhor para lidar com os efeitos dessa volatilidade cambial.
“O real sofre toda vez que o mundo entra em crise. Isso encarece a importação de insumos, pressiona os custos internos e compromete o planejamento de setores estratégicos, como o agronegócio”, afirmou em entrevista à BM&C News.
Real desvalorizado encarece produção e afeta competitividade
Segundo Nyegrey, a desvalorização do real tem efeito duplo sobre o agronegócio: por um lado, melhora a competitividade das exportações dolarizadas; por outro, aumenta significativamente o custo de produção, já que boa parte dos insumos agrícolas, como fertilizantes, sementes e maquinários, é importada.
“O agronegócio brasileiro vive uma contradição: ganha com o real fraco nas exportações, mas perde na hora de produzir, porque tudo fica mais caro. É preciso fazer hedge cambial e se planejar para lidar com essa instabilidade”, explica o professor.
Brasil precisa proteger o real com estratégia de longo prazo
Nyegrey defende que o país vá além de medidas emergenciais e adote uma política de longo prazo para proteger o real. “Estamos há décadas convivendo com uma economia dependente da exportação de commodities e com baixa capacidade de agregar valor. Isso deixa o real vulnerável a qualquer turbulência internacional”, avaliou.
Para o especialista, o real só será forte quando o Brasil investir em reindustrialização, inovação tecnológica e políticas de comércio exterior ambiciosas. “É uma questão de estratégia nacional. A moeda reflete a força da economia. E, neste momento, nossa moeda está dizendo que temos problemas estruturais a enfrentar.”
Real fraco revela falta de preparo institucional
Além dos efeitos econômicos imediatos, a desvalorização do real escancara a ausência de um plano institucional sólido para lidar com choques globais. Nyegrey criticou a falta de protagonismo do Executivo e do Legislativo na construção de uma política econômica mais robusta.
“O real não vai se fortalecer apenas com sorte ou pela dinâmica internacional. Precisamos de decisões internas, de visão de país. E, infelizmente, isso ainda está ausente do debate público”, concluiu.