A cadeia produtiva do café no Brasil começa a dar sinais de recuperação e reequilíbrio após um início de ano marcado por alta nos preços no varejo e pressão sobre a indústria de torrefação. A combinação de ajustes nos blends utilizados para cafés tradicionais e extrafortes, aumento da produtividade nas lavouras e recomposição de margens na indústria está criando um ambiente mais saudável tanto para produtores quanto para o consumidor final.
Segundo Vicente Zotti, cofundador do Grupo Pine, essa mudança de cenário pode contribuir para uma melhora gradual no consumo e maior estabilidade ao longo da cadeia — da fazenda à gôndola.
Zotti lembra que no início do ano alertou para o impacto do preço da commodity no varejo e nas torrefações. “Na época, o cenário era ruim para a indústria. A escassez de café e os preços altos no mercado internacional pressionavam as margens, e o repasse ao consumidor elevou os preços para níveis recordes”, diz. Esse movimento, segundo ele, trouxe pouco benefício ao produtor, já que a oferta era limitada, e afetou negativamente o consumo nos primeiros quatro meses do ano.
Nova dinâmica no mercado e margens em recomposição influenciam preços do café
Agora, com o aumento da oferta e ajustes nos blends utilizados pela indústria – especialmente para os cafés tradicionais e extrafortes – a cadeia produtiva volta a operar com maior equilíbrio. “Neste momento, a indústria consegue recompor parte da margem que havia perdido. E os produtores com produtividade acima de 20 sacas por hectare no Arábica e 80 sacas no Conilon também devem ter resultados financeiros positivos”, explica Zotti.
A melhora nas condições operacionais da torrefação e o aumento da produção abrem caminho para uma queda nos preços ao consumidor final, sem prejudicar os elos anteriores da cadeia. É uma mudança de ciclo que pode beneficiar todos os envolvidos, do campo ao varejo.
Consumo de café tende a reagir, mas cenário climático ainda impõe cautela
Com o preço recuando e a normalização das margens na indústria, a expectativa é de que o consumo de café se recupere no segundo semestre. “A tendência é de retomada, mas há desafios no horizonte”, pondera Zotti. Entre eles, estão os riscos climáticos típicos da entressafra, como o período de dormência do café, estiagens e a necessidade de boa florada e pegamento para garantir uma próxima colheita consistente.
A avaliação do especialista é que, embora o momento atual seja de alívio, o cenário para o final de 2025 e início de 2026 dependerá diretamente das condições climáticas e da resposta do mercado internacional.
“A cadeia do café volta a ser mais saudável. Agora, o produtor e a indústria conseguem respirar. O consumidor também deve se beneficiar dessa mudança na dinâmica de preços”, conclui Zotti.
A melhora nas condições da cadeia do café também pode ter reflexos positivos sobre a inflação nos próximos meses. Com a expectativa de redução nos preços ao consumidor e a recomposição de margens no setor industrial, o produto pode contribuir para aliviar a pressão sobre o grupo de alimentação e bebidas do IPCA. Caso esse movimento se consolide, os efeitos podem começar a aparecer nos índices de inflação a partir de agosto, ajudando a reforçar um cenário mais benigno para a política monetária no segundo semestre.