A recente suspensão das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos foi recebida com otimismo pelo mercado internacional, mas seu efeito prático ainda é limitado. Segundo Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a medida é temporária, já que o governo norte-americano ainda pode recorrer da decisão. Ainda assim, ele afirma que a suspensão representa um sinal positivo no curto prazo, especialmente para os exportadores de commodities do Brasil.
“Os setores de matérias-primas e insumos básicos, como minério de ferro e petróleo, seguem com forte competitividade”, explicou o economista. Para ele, mesmo com tarifas setoriais ainda em vigor — que variam de 10% a 20% —, o Brasil mantém fôlego graças à alta produtividade desses segmentos.
Risco maior vem da economia dos EUA, não das tarifas
Agostini destaca que o maior risco para o Brasil não está nas tarifas em si, mas sim na desaceleração da economia americana. O PIB dos Estados Unidos apresentou queda de 0,2% no primeiro trimestre, resultado abaixo das expectativas. “Esse cenário, sim, pode afetar a demanda por insumos brasileiros”, alerta.
A preocupação aumenta diante da possibilidade de novas medidas protecionistas em um eventual novo mandato de Donald Trump. Embora o Brasil não tenha sido um dos alvos principais dos aumentos tarifários anteriores — com alíquotas menores do que as aplicadas a outros países —, o risco geopolítico continua sendo um fator relevante.
Brasil ainda é visto como fornecedor estratégico
Apesar das tensões, Agostini acredita que o Brasil continua sendo um parceiro comercial essencial para os Estados Unidos, especialmente pela oferta de produtos agrícolas e minerais. A taxa de câmbio desvalorizada também colabora, tornando os produtos brasileiros mais atrativos para o mercado internacional.
“Mesmo com os custos internos elevados por conta da carga tributária e problemas de infraestrutura, os produtos brasileiros ainda são considerados baratos no exterior”, afirmou. Essa vantagem comparativa reforça a capacidade do país de manter sua posição nas cadeias globais de valor.
Desafio está dentro de casa: confiança no Brasil ainda é calo no pé
O economista ressalta que o maior entrave ao crescimento do comércio exterior brasileiro não é externo, mas interno. “Com um ambiente fiscal desorganizado e baixa previsibilidade para investidores, o empresário local pisa no freio”, comentou.
Para Agostini, o Brasil precisa melhorar suas relações institucionais e seu ambiente de negócios se quiser ganhar mais espaço em acordos bilaterais e cadeias de suprimento globais. A diplomacia brasileira é reconhecida por seu perfil conciliador, mas isso não basta sem reformas estruturais que atraiam capital e promovam competitividade.