O ajuste fiscal voltou ao centro das discussões econômicas no Brasil, e para Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, o problema já deveria estar resolvido desde o ano passado. Em entrevista à BM&C News, Velloni destacou que a falta de medidas concretas de controle de gastos e o enfraquecimento político do ministro da Fazenda tornam difícil qualquer avanço relevante no curto prazo.
“Esse debate sobre corte de despesas e equilíbrio das contas públicas vai continuar por muitos meses. É o principal tema do cenário doméstico. Não importa o otimismo vindo do exterior, se internamente não houver sinal claro de responsabilidade fiscal, o país continuará sob pressão”, afirmou.
Segundo Velloni, o Brasil ainda enfrenta desconfiança do investidor estrangeiro, o que tem implicado em uma taxa Selic mais elevada. “A Selic não está em 10% ou menos apenas por causa da inflação. Ela reflete o risco fiscal, a ausência de compromisso com o equilíbrio das contas e a falta de confiança na condução econômica”, explicou.
Gasto público crescente e falta de cortes concretos
O economista foi enfático ao apontar que o governo não está promovendo um corte real de despesas. “O que temos hoje é uma desaceleração no crescimento dos gastos, não uma redução efetiva. Sem isso, não há como avançar em termos de responsabilidade fiscal”, criticou.
Ele ainda lembrou que o governo, ao tentar construir maioria no Congresso, acaba pressionado por uma lógica de “toma lá, dá cá”, o que contribui para o aumento de despesas e compromete qualquer tentativa de ajuste. “Quanto mais instável a relação com o Congresso, maior a tendência de ampliação dos gastos públicos, com vistas a manter apoio político”, destacou.
Eleição e risco fiscal mais exposto
Com a aproximação do ciclo eleitoral, Velloni acredita que o debate sobre responsabilidade fiscal ganhará ainda mais evidência. “A falta de atitude do governo nesse tema vai ser exposta, e isso tende a agravar a percepção de risco. O fiscal é a chave para a retomada sustentável do crescimento no Brasil. Sem isso, o país continuará patinando”, concluiu.
Fiscal no radar: cenário internacional não compensa fragilidade doméstica
Apesar de algum otimismo com o fluxo de recursos externos devido à crise tarifária nos Estados Unidos, o economista pondera que isso não é suficiente para compensar as incertezas internas. “Mesmo com oportunidades temporárias, o Brasil não atrai fluxo consistente porque ainda carrega um histórico de instabilidade fiscal. A confiança é essencial — e sem compromisso com o ajuste, ela não vem.”