Em meio a uma agenda legislativa esvaziada e um cenário de crescente descrença nas instituições, o analista político e econômico Miguel Daoud lançou críticas contundentes ao comportamento do Congresso Nacional. Durante participação no programa da BM&C News, Daoud classificou a atuação do Legislativo como “desconectada das necessidades reais da população” e alertou para o risco de mais um semestre perdido para o Brasil.
Para ele, o primeiro semestre de 2025 tem se desenrolado sem qualquer avanço substancial em pautas que impactem diretamente o bem-estar dos brasileiros. Em vez disso, segundo o analista, parlamentares concentram esforços em estratégias de autopromoção e proteção de seus interesses políticos — como o uso das redes sociais e a distribuição de emendas para suas bases eleitorais.
“Quando se liga a TV para assistir a uma sessão do Congresso, o que se vê são deputados e senadores gravando vídeos para o TikTok, para o WhatsApp, para as bolhas eleitorais. Não há votação, não há debate real sobre os problemas urgentes do país”, criticou.
Pauta esvaziada e prioridades esquecidas no Congresso
Daoud observa que, mesmo com o Brasil enfrentando problemas fiscais, pressão inflacionária e um rombo bilionário na previdência social, o Congresso parece operar em um vácuo de prioridades. “Ainda não estamos em ano eleitoral. Justamente por isso, seria o momento ideal para aprovar medidas mais duras, estruturar programas de longo prazo. Mas o que vemos é o oposto”, afirmou.
Entre os temas que, na visão do analista, deveriam estar no centro do debate está o Plano Safra, essencial para financiar a produção agropecuária e garantir a continuidade da oferta de alimentos a preços acessíveis. Com a alta dos custos de produção e das taxas de juros, produtores rurais aguardam sinalizações claras do governo e do Congresso sobre os recursos disponíveis para a próxima safra.
“O agronegócio é o setor que mais impulsiona a economia brasileira, que garante comida na mesa e ajuda a conter a inflação. Mas você vê esse tema sendo tratado com seriedade no Congresso? Não. Falta entendimento, falta vontade política”, disparou.
Congresso no radar: rombo no INSS e contingenciamento sem solução estrutural
Outro ponto crítico citado por Daoud foi o rombo crescente no INSS e o consequente anúncio de um contingenciamento orçamentário estimado em R$ 12 bilhões por parte do governo federal. Para o analista, trata-se de uma “solução cosmética” diante de um problema estrutural que exige reformas profundas e um amplo consenso político.
“O governo diz que vai bloquear R$ 12 bilhões. Mas bloquear o quê? Dinheiro que já não existe? Estamos lidando com um orçamento fictício, enquanto o país afunda em obrigações que não consegue mais honrar”, avaliou.
Congresso prioriza a sobrevivência política, não o país
Segundo Miguel Daoud, parte significativa dos parlamentares tem utilizado os mecanismos de emenda — especialmente as chamadas emendas especiais — para manter influência em suas regiões, canalizando recursos a obras pontuais e eleitoreiras, muitas vezes em detrimento de projetos de impacto nacional.
“A política virou um balcão de negócios. As emendas viraram moeda de troca para reeleição. O foco deixou de ser o Brasil. É a perpetuação no poder acima de tudo”, resumiu.
Daoud também criticou a desarticulação entre Executivo, Legislativo e Judiciário, afirmando que não há um pacto institucional para o desenvolvimento do país. Ele cita o avanço do Judiciário sobre competências do Congresso e a incapacidade do Executivo de articular reformas duradouras como exemplos do desequilíbrio entre os poderes.
“O Judiciário invadiu o espaço do Legislativo. Agora o Legislativo tenta reagir, mas falta coordenação, falta projeto. Cada poder atua em uma direção. E o Brasil, que já é um país com 70 milhões de pessoas em programas sociais, fica à deriva”, alertou.
O Brasil do futuro que nunca chega
Ao final de sua análise, Miguel Daoud lamentou a estagnação política que, em sua visão, condena o país a repetir os mesmos erros década após década.
“O Brasil segue sendo o país do futuro que nunca chega. Com criminalidade avançando, miséria se expandindo e um sistema político preocupado apenas em manter o poder, não há como prosperar. Sem um projeto de nação claro e sem compromisso com a população, continuaremos presos no passado.”