Depois de conversas e reuniões entre o ministro das Comunicações, Fabio Faria e Elon Musk, com direito a foto no Twitter, a Starlink finalmente entrou no Brasil com a autorização da Anatel para distribuir internet através da sua constelação de satélites.
A operadora de internet do homem mais rico do mundo poderá operar no país e levar banda larga para todo o território nacional, inclusive nos locais que as operadoras convencionais não chegam. Dessa forma, a expectativa é que os planos da Starlink estejam prontos para operarem no Brasil nos próximos anos, com a promessa de velocidades de download entre 150 e 500 Mbps e latência de 20-40 ms.
Vale ressaltar que a subsidiária da SpaceX já deixou bem claro que sua conexão não é para todos e ela tem como objetivo principal alcançar áreas onde a internet cabeada não chega, com foco especial no agronegócio. De acordo com dados da Anatel, o Brasil hoje tem 14% da população sem cobertura alguma, o que equivale a 6 milhões de usuários, mesmo com condições financeiras para arcar com o custo de um pacote de banda larga de qualidade, não tem nenhuma empresa à disposição para oferecer o serviço.
Alta velocidade e custo elevado
A companhia promete trazer um serviço diferenciado. Isso porque, os 4.408 satélites que serão direcionados para operação em território brasileiro, atuaram em órbitas baixas e possibilitam chamadas, jogos online, streaming, vídeo e outras atividades de altos tráfegos de dados que, historicamente, não têm sido possíveis com internet via satélite.
Entretanto, o serviço custará caro. De acordo com a Starlink, a mensalidade de sua internet ficou avaliada em R$ 530. Já a instalação com o kit de equipamentos sairá por R$ 2.670. Ao todo, uma pessoa que desejar ter a internet por satélite, terá que desembolsar cerca de R$ 11 mil reais em seu primeiro ano de uso.
O preço elevado não é uma surpresa para Danilo Miranda, engenheiro aeroespacial e gerente de projeto do satélite VCUB1. O especialista que trabalha na indústria de satélites brasileira há 10 anos afirma que é normal o custo elevado de conexões via satélite.
“Normalmente o número de usuários atendidos pelo sistema é um pouco menor para o mesmo custo de implantação. As grandes vantagens das comunicações via satélite são a sua rápida implementação do ponto de vista do usuário, bastando uma antena e um modem para ficar “online”, a cobertura em larga escala, em especial para zonas periféricas e zonas de difícil acesso, e também provimento de internet para usuários que estão em trânsito (carros, navios, aviões, etc)”.

Concorrência
As empresas tradicionais de internet ainda não temem a Starlink. Isso porque o alto custo vai fazer com que muitas pessoas não possam aderir a ela, mesmo se tratando de uma velocidade maior.
Dessa forma, para Miranda, os primeiros a aderirem a Starlink serão os clientes tradicionais do mercado de telecomunicações via satélite, isto é, o agronegócio, óleo e gás, mineração, plantas industriais remotas, aviação, naval, etc. Mas a empresa tem um amplo ambiente para atuar nas zonas urbanas. Isso porque em locais bem servidos com internet, o cliente tem a possibilidade de fazer a comparação de preço. Já em zonas mal servidas com internet, isto é, cidades de menor porte, em zonas periféricas e rurais, existem também potenciais clientes.
Entretanto, para Érick Allison Batista de Souza, professor especializado em Macbooks da Tech Channel Centro de Capacitação, a pergunta é outra: como as empresas provedoras de internet atuais vão poder competir com uma empresa que conseguiu cobrir o planeta inteiro?
Para o especialista, o cenário real é que seria impossível uma nova empresa oferecer planos menores que seus “concorrentes” e com valores dez vezes maiores se sustentar no mercado. “A Starlink é para o mercado uma nova opção de serviço, algo novo e sem concorrência, pois hoje 50% do planeta não tem cobertura de internet, e apenas a Starlink estará neste espaço”, explica.
E o 5G?
O 5G está nos planos da Starlink. Em um primeiro momento, a empresa deve ser usada na rede 5G para ajudar a escoar o tráfego, agindo como infraestrutura de backhaul, mas sem acesso direto ao usuário, que está na ponta do sistema.
As informações mais recentes, no entanto, dizem que a empresa pretende lançar seu próprio smartphone com acesso à internet via satélite da Starlink. Se isso de fato ocorrer, vai provocar uma revolução no mercado, trazendo grande mudança na indústria de smartphones e eletrônicos e na indústria do 5G e telecomunicações.
Além disso, o grupo de Musk se interessou bastante em poder levar internet 5G para a Amazônia por fibra óptica sem remover um galho da árvore. Segundo Fábio Farias, o ministro de telecomunicações do Brasil, esse seria o gatilho para trazer os investimentos estrangeiros para o país e faria com que a sustentabilidade se fundisse com o avanço tecnológico. Esta poderia ser a única ligação de Musk com a implementação do 5G no país, até o momento.
Starlink no mundo inteiro
De acordo com o próprio Elon Musk, o crescimento da companhia para outros países faz parte de um plano onde a internet via satélite da Starlink possa cobrir todo o globo terrestre.
Em janeiro de 2022 já existiam 2 mil satélites StarLink ativos, e o projeto é que, em até uma década, a SpaceX tenha de 12 mil a 42 mil satélites em órbita baixa.
Nesse cenário, o Brasil se torna um mercado bastante interessante para a subsidiária da SpaceX, tanto pelo tamanho da sua população, quanto pelo tamanho do seu território.
A empresa de Elon Musk já recebeu aprovação para prover serviços das autoridades de telecomunicações do Chile, e já entrou com pedidos em outros países da região.
“Com a evolução desse projeto e uma diminuição de custo, tudo leva a crer que, além de áreas remotas, o próximo alvo serão os usuários das grandes cidades”, afirma Érick Allison.