No debate entre o setor de energia, as empresas Cemig e Isa Energia, o analista Pedro Galdi, da AGF, comparou os fundamentos de Cemig (CMIG4) e Isa Energia (ISAE4), destacando semelhanças setoriais e diferenças relevantes em perfil de negócios, alavancagem e política de dividendos. Ambas atuam no setor elétrico, mas com escopos distintos: a Cemig opera geração, transmissão e distribuição em Minas Gerais, enquanto a Isa Energia é focada em transmissão, um segmento com receitas reguladas (RAP) e menor exposição a perdas técnicas e comerciais.
Segundo Galdi, a especialização em transmissão tende a favorecer a previsibilidade de caixa da Isa Energia, apesar do ciclo de investimentos em novas concessões ter elevado a alavancagem. Já a Cemig combina frentes de atuação com necessidades de Capex mais intensas, sobretudo em distribuição. Além disso, o pano de fundo político-econômico em Minas Gerais, incluindo discussões sobre privatização ou corporativização, adiciona um componente de incerteza que pode destravar valor no futuro, mas que ainda carece de visibilidade.
Cemig ou Isa Energia: qual ação entrega mais dividendos?
Nos números trazidos pelo analista, a Isa Energia apresenta dividend yield projetado de 8,8%, acima dos 6,13% estimados para a Cemig. O payout também difere, a Cemig distribui cerca de 50% do lucro líquido, enquanto a Isa Energia adota um patamar próximo de 75%. Em termos de fluxo recente, Galdi relembra que a Isa Energia pagou dividendos em janeiro, fevereiro e março (decisão do conselho para o calendário seguinte), e que a prática de anunciar proventos em dezembro para pagamento no ano seguinte ocorre em ambas, ainda que com ritmos e valores que podem variar a cada ciclo.
O analista chama atenção para as “distorções” de calendário, a Cemig exibiu DPA projetado em torno de R$ 0,67 para o ano, mas já pagou R$ 1,05 por incorporar parcelas relativas a períodos anteriores. A Isa, por sua vez, tinha DPA projetado de R$ 1,68, mas somou R$ 2,36 pagos no ano, também refletindo a dinâmica de anúncios e desembolsos. Nesse sentido, o investidor deve observar não apenas a fotografia do yield, mas o histórico de decisões e a previsibilidade da geração operacional.
Endividamento e investimentos: risco controlado ou ponto de atenção?
No eixo da alavancagem, a Cemig apresenta relação dívida líquida/EBITDA de aproximadamente 1,4x, nível considerado confortável por Galdi. Já a Isa Energia opera por volta de 3,2x, patamar mais elevado, explicado pelo ciclo de investimentos após a conquista de novas concessões de transmissão. Por outro lado, segundo o analista, a rentabilidade do segmento e a cadência de entrada em operação (“energização”) das linhas contribuem para sustentar a tese de manutenção dos proventos dentro dos parâmetros divulgados.
Além disso, o caso Cemig carrega um componente macro-político: o governo de Minas Gerais, bastante endividado, avalia alternativas envolvendo ativos estaduais (como Copasa e a própria Cemig). Por ora, Galdi vê um processo “em capítulos”, que pode tanto catalisar reprecificação (se houver avanços claros) quanto alongar incertezas (se houver impasses). Por outro lado, a Isa Energia tem tese mais “limpa” do ponto de vista societário e regulatório, ainda que com o ônus de um capex volumoso no curto prazo.
Preço de tela versus consenso: onde há (ainda) espaço?
Nos comparativos de preço, Galdi citou, para a Cemig, referência de preço-teto projetivo em R$ 11,20, consenso em R$ 11,52 e negociação de mercado em torno de R$ 11,34, sugerindo ação “ajustada” ao consenso, com menor espaço para ganhos de capital de curto prazo. Já para a Isa Energia, os números mencionados foram R$ 28,08 (teto projetivo), R$ 25,45 (consenso) e R$ 23,78 (preço de tela), indicando algum potencial ainda a capturar, embora mais concentrado na renda de dividendos do que em fortes movimentos de valorização imediata.
Nesse sentido, a leitura do analista é que ambas se encaixam bem em uma carteira de caráter previdenciário, priorizando fluxo de caixa recorrente e reinvestimento dos proventos ao longo do tempo. Por outro lado, para quem busca a primeira exposição ao tema, Galdi afirma que começaria por Isa Energia, sobretudo pelo yield projetado mais alto e pela natureza do negócio.
Cemig ou Isa Energia: como organizar a carteira de dividendos?
Galdi recomenda evitar excesso de papéis no início e construir gradualmente o “efeito bola de neve” dos proventos. A ideia é selecionar alguns nomes do setor elétrico com histórico de distribuição consistente e ir adicionando posições conforme o fluxo de dividendos cresce. Enquanto isso, a tese Cemig pode ganhar um “gatilho” adicional caso o programa de privatização ou mudanças na estrutura societária avance de forma concreta; caso contrário, sua função na carteira tende a ser mais de renda do que de apreciação acelerada.
Por outro lado, a Isa Energia, mesmo com alavancagem mais alta, mantém a diretriz de distribuição e vem convertendo capex em ativos operacionais com RAP contratada, o que favorece a previsibilidade do fluxo. Ainda assim, é essencial que o investidor acompanhe indicadores como alavancagem, cronograma de entrada em operação das linhas e decisões de conselho sobre a política de distribuição.
Principais pontos comparativos
Aspecto | Cemig (CMIG4) | Isa Energia (ISAE4) |
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Perfil de negócios | Atua em geração, transmissão e distribuição de energia em Minas Gerais. | Focada exclusivamente em transmissão de energia elétrica. |
Dividendos | Yield projetado de ~6,13%; payout médio de 50% do lucro líquido. | Yield projetado de ~8,8%; payout médio de 75% do lucro líquido. |
Alavancagem | Relação dívida líquida/EBITDA em torno de 1,4x. | Relação dívida líquida/EBITDA próxima de 3,2x, devido a novos investimentos. |
Preços e consenso | CMIG4 negociada próxima ao consenso de mercado (R$ 11,52). | ISAE4 ainda tem espaço até o preço-teto projetivo (R$ 28,08). |
Gatilhos | Possibilidade de valorização com avanço em privatização ou corporativização. | Expansão da RAP com novas linhas de transmissão energizadas. |
De acordo com Pedro Galdi (AGF), “Cemig ou Isa Energia” não é uma escolha de zero a um, ambas se encaixam em carteiras de renda com visão de longo prazo. Entretanto, para começar, o analista prefere Isa Energia pelo conjunto de yield projetado, previsibilidade do segmento de transmissão e calendário de distribuição recente. A Cemig, por sua vez, segue como opção relevante, com potencial de eventos societários e estabilidade operacional, para uma segunda etapa de alocação.