No programa Money Report desta semana, apresentado por Aluizio Falcão Filho, três trajetórias de empreendedorismo se encontraram para discutir varejo, propósito de marca e o impacto concreto da inteligência artificial. Ângela Fonseca (Jogê), Simone Sancho (Belong Be) e Fábio Neto (StarSe) compartilham aprendizados práticos que conectam estratégia e execução. Além disso, o debate parte de casos reais para mostrar como decisões rápidas, com base em repertório e dados, criam vantagem competitiva em mercados dinâmicos.
O fio condutor é transformar produto em significado e informação em ação. Nesse sentido, Ângela relata a evolução da Jogê do “sutiã e calcinha” para o território do bem-estar e da intimidade; Simone explica como a beleza independente é uma escolha de lifestyle e pertencimento; e Fábio defende uma educação executiva voltada a decidir “na semana”, não apenas acumular conteúdos. Por outro lado, o trio concorda que a tecnologia é meio, não fim e que o toque humano segue insubstituível na conversão e na fidelização.
Repertório que vende: empreendedorismo do produto ao pertencimento
Ângela reposiciona a categoria: lingerie como experiência, autoestima e wellness. Além disso, aproxima o consumo de moda íntima da “compra indulgente” do batom, pequenas decisões que regulam humor, reforçam identidade e geram recorrência. Enquanto isso, a narrativa exige pessoalidade no atendimento e coerência entre discurso e prática, pois propósito sem entrega tangível não sustenta receita. Nesse sentido, comunidades, conteúdo e serviço se tornam extensões do produto.
Simone aponta que competir por preço com gigantes é um beco sem saída; a tese vencedora é curadoria com propósito. Por outro lado, consumidores escolhem marcas independentes pelo que elas representam, formulações mais naturais, representatividade real e estética autêntica. Além disso, a construção de marca depende de repertório consistente, aquilo que orienta desde o portfólio até a linguagem e os rituais de relacionamento.
Como a IA muda o empreendedorismo na prática?
Os três convergem: IA é alavanca de produtividade quando inserida em processos claros. Ângela relata automações em finanças e marketing, ganhos de tempo e realocação de talentos, além do uso de CRM com IA para “produto certo, cliente certo”. Nesse sentido, a eficiência cresce sem abrir mão do calor humano na abordagem final, fator decisivo para conversão.
Simone descreve a IA como “segundo cérebro” para valuation, análise e esboços de conteúdo, sempre com revisão para preservar autoria e voz da marca. Por outro lado, Fábio alerta para o “AI washing”, muitas empresas compram ferramentas e “chamam de IA” problemas que ainda são de processo. Além disso, ele propõe um mindset AI-first: começar pela automação e pelo dado, sem terceirizar o julgamento executivo.
Ambidestria organizacional: otimizar o hoje, explorar o amanhã
Fábio sugere dosar esforços conforme a vulnerabilidade à disrupção. Enquanto isso, setores com baixo risco tecnológico de curto prazo (como aviação) devem priorizar excelência operacional e gestão de caixa; já o automotivo, pressionado por “computadores sobre rodas” e novos players, precisa ampliar ciclos de experimentação. Nesse sentido, ele lembra que “o excelente também quebra”: NPS alto não protege quem ignora mudanças estruturais.
Para pequenas e médias empresas, Ângela e Simone traduzem a ambidestria no cotidiano do fundador: de manhã, o “guardião do orçamento”; à tarde, o “sonhador que testa hipóteses”. Por outro lado, a cultura do “não errar” empurra líderes à procrastinação. Além disso, experimentar barato e rápido, com métricas de sucesso e ritos de aprendizado, reduz o custo do desconhecido e acelera decisões.
Gente, cultura e a armadilha do excesso de liberdade
O bloco de pessoas expõe um paradoxo: nunca se falou tanto de bem-estar, diversidade e empatia, e ainda assim o Brasil lidera índices de ansiedade e burnout. Nesse sentido, Fábio afirma que liberdade sem responsabilização infantiliza times e deteriora a execução. Por outro lado, Ângela reforça o papel geracional dos líderes em educar para a decisão, não apenas “informar”; e Simone critica a burocracia do conhecimento, muito slide, pouca pele em jogo.
Além disso, o trio recomenda que empresas assumam o papel de “edtech para dentro”: ensinar convivência, resiliência e a disciplina dos trabalhos “chatos, porém necessários”. Enquanto isso, a inteligência artificial libera tempo operacional; cabe à liderança reinvesti-lo em formação, método e rituais que sustentem autonomia com accountability.
Checklist prático para o empreendedor
- Defina propósito acionável: traduza valores em experiência, serviço e linguagem; evite slogans sem entrega.
- Use IA como meio: automatize finanças, CRM e análise; mantenha revisão humana para garantir autoria e consistência.
- Implemente ritos de experimento: hipóteses trimestrais, métricas claras e ciclos curtos de teste-aprendizado.
- Calibre a ambidestria: ajuste o mix entre eficiência e inovação conforme a vulnerabilidade do seu setor.
- Eduque o time: liberdade com responsabilização; ensine a decidir com dados, método e senso de dono.
- Meça o que importa: conversão, retenção, NPS, margem e tempo de ciclo; conecte indicadores à tomada de decisão.
Execução com significado é a nova fronteira do empreendedorismo
O episódio evidencia que a vantagem do empreendedorismo brasileiro emergirá do cruzamento entre propósito, dados e velocidade de decisão. Além disso, a IA multiplica produtividade quando serve a processos bem desenhados e a uma cultura que acolhe o erro do experimento, não o do projeto. Por outro lado, marcas que vivem só de produto perdem espaço para quem entrega sensação, comunidade e narrativa.
Em síntese, Ângela, Simone e Fábio apontam rotas complementares para criar valor: construir significado, medir impacto e decidir com coragem. Nesse sentido, o varejo que prospera transforma informação em ação, tecnologia em vantagem e histórias em pertencimento, mantendo o toque humano que converte, fideliza e sustenta resultados no longo prazo.