O chanceler Otto Von Bismarck, responsável pela unificação da Alemanha no Século 19, dizia que a “política era a arte do possível”. Dentro deste raciocínio, deputados e senadores teriam de saber a hora de deixar a intransigência de lado para prevenir uma derrota total ou obter uma vitória por pontos — já que, na ribalta política, os radicalismos são sempre punidos com o isolamento. Foi o que aconteceu com o PT nos anos 1980, quando adotou uma postura totalmente intransigente. Postura essa que hoje é repetida por uma grande parte da nova direita.
O alvoroço em torno do projeto de anistia mostra que muitos conservadores não querem saber de negociação e rejeitam qualquer tipo de solução que adote um meio-termo. Para esses congressistas, o texto que será votado em caráter de urgência terá de anular todas as penas e incluir um perdão ao ex-presidente Jair Bolsonaro, dando a ele a capacidade de disputar as eleições de 2026. Redução das sentenças, somente, está fora de cogitação. “Seguimos defendendo a anistia. Dosimetria é algo definido pelo Judiciário”, disse Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara (imagem).
Trata-se de uma conduta que se viu no início do governo Bolsonaro. Neste período, o Planalto queria impor pautas sem negociar com o Centrão. O resultado disso foi uma sucessão de brigas e desentendimentos com o Congresso durante 18 meses, até que o presidente se curvou ao pragmatismo político e nomeou o senador Ciro Nogueira como ministro-chefe da Casa Civil.
A falta de traquejo da nova direita é algo que vimos antes – mais especificamente na atuação do PT no Congresso, especialmente no período em que Luiz Inácio Lula da Silva foi deputado federal, entre 1987 e 1991.
Um pouco antes do mandato de Lula, em 1985, a bancada petista não apoiou a Aliança Democrática que formou a chapa Tancredo Neves/José Sarney para concorrer à presidência através de eleição indireta, via Colégio Eleitoral. Isso levou figuras relevantes do partido, como Bete Mendes e José Eudes, a romperem com a sigla. Na mesma linha, o partido expulsou deputados que votaram em Tancredo (como Airton Soares), reforçando sua recusa em participar de arranjos considerados conciliatórios demais.
Três anos depois, em 1988, o PT votou contra a nova Constituição e só assinou o documento ao final do processo, depois de pressão quase unânime do Congresso. Lula queria reafirmar o compromisso com uma transformação mais profunda, mesmo que isso significasse isolamento político.
Outros episódios reforçam esse perfil: em 1989, durante a campanha presidencial, Lula defendeu o não pagamento da dívida externa, proposta vista como radical e que gerou forte reação do mercado. Já em 1993, o PT recusou participar do governo Itamar Franco, mesmo diante de uma proposta de coalizão para estabilizar o país após o impeachment de Collor. A decisão refletia a insistência em manter uma oposição dura e independente, mesmo em momentos de transição institucional delicada.
A nova direita, como o velho PT, parece tratar qualquer tentativa de diálogo como traição. No fundo, esses políticos confundem firmeza com teimosia e acabam estacionados no acostamento da história, certos de que estão liderando o comboio da maioria. Mas estão apenas pregando para convertidos e recebendo aplausos somente dentro da própria bolha.