O debate sobre a necessidade do governo federal cortar gastos para equilibrar as contas públicas em 2026 ganhou destaque nas análises recentes de especialistas. A discussão gira em torno das despesas obrigatórias subestimadas no orçamento, como previdência, BPC e o impacto do reajuste do salário mínimo, que pressionam o espaço fiscal. Diante desse cenário, cresce a expectativa de que as despesas discricionárias sejam novamente o alvo de ajustes.
Enquanto parte dos analistas aponta a compressão dessas despesas como inevitável, há também quem considere que o governo deve optar por ampliar a dívida pública e usar a inflação como instrumento indireto de ajuste. O dilema entre cortar investimentos e assumir novos passivos coloca em evidência a dificuldade estrutural do país em lidar com suas finanças de forma sustentável.
De onde o governo pode cortar gastos?
Segundo Gabriel Barros, economista da ARX Investimentos, o padrão histórico mostra que o aumento de gastos obrigatórios acaba sendo compensado pela redução de despesas discricionárias. “É onde o governo consegue agir. O desafio de cumprir o limite de gastos no próximo ano é real e será complicado”, afirmou. Ele citou como exemplos o Auxílio Gás, que pode custar até R$ 10 bilhões, e as emendas parlamentares, previstas em R$ 40,8 bilhões, como pressões adicionais sobre o orçamento.
Além disso, Barros destacou que a PEC 66, em discussão no Congresso, poderia ampliar em pouco mais de R$ 12 bilhões o limite de despesas em 2026, mas lembrou que isso não resolve o problema estrutural das contas públicas. “Só mostra o quão distante do realismo fiscal a peça apresentada está”, acrescentou.
Quais os impactos políticos e econômicos?
Na visão do economista VanDyck Silveira, a perspectiva é menos otimista em relação a cortes. Para ele, o governo não deve reduzir gastos, mas sim aumentar o endividamento. “Não acredito que vai cortar. E, se cortar, será do pouco que resta de investimento”, avaliou. Nesse cenário, setores como infraestrutura podem sofrer ainda mais, agravando a perda de competitividade da economia brasileira.
Silveira também ressaltou que a inflação continuará sendo usada como instrumento de ajuste fiscal indireto. “A inflação ajuda bastante, é um imposto disfarçado. A pessoa média sente, mas não chama de aumento de imposto”, explicou. Ele ainda lembrou que medidas de aumento de impostos que não dependem do Congresso devem ser aplicadas para compensar a política de isenção sobre rendas mais baixas.
O dilema entre investimento e responsabilidade fiscal
Enquanto Barros vê a necessidade de cortar gastos discricionários como inevitável para cumprir o limite fiscal, Silveira reforça que o caminho escolhido será o endividamento e o uso da inflação como mecanismo de ajuste. Ambos, no entanto, convergem ao apontar que o ambiente de políticas públicas e investimentos deve ser comprimido, seja pela tesoura do orçamento, seja pela deterioração fiscal.
Esse quadro levanta preocupações não apenas econômicas, mas também políticas. Em ano pré-eleitoral, a tendência de ampliar programas sociais e evitar cortes significativos pode gerar tensões adicionais no Congresso e pressionar a credibilidade do governo perante o mercado. “O equilíbrio entre responsabilidade fiscal e demandas políticas permanece, como um dos maiores desafios do próximo ciclo“, avaliam.
- Pressão sobre a Selic: queda fica inviável diante da inflação acima da meta.
- Infraestrutura e produtividade seguem comprometidas por falta de investimentos.
- Risco de perda de credibilidade fiscal e de atrito político em ano pré-eleitoral.
- Dilema: equilibrar responsabilidade fiscal com expansão de programas sociais.