O comportamento dos Treasuries desde 2022 mostra como as taxas dos títulos do Tesouro americano acompanharam a política monetária do Federal Reserve, segundo um levantamento da Quantum Finance. O gráfico aponta uma trajetória de alta consistente a partir do início do ciclo de aperto monetário, seguido por um breve arrefecimento e uma retomada recente em meio à expectativa pela conferência de Jackson Hole.
Esse movimento ocorre em um contexto de dados mistos: payroll mais fraco do que o esperado em julho e inflação em ritmo moderado. A combinação desses fatores elevou as apostas de que o Fed promoverá um corte de 0,25 ponto percentual na reunião de setembro, probabilidade que já supera 80% segundo o FedWatch Tool da CME.

Por que os Treasuries estão em foco?
Os Treasuries são considerados referência global de renda fixa e servem como base para precificação de ativos e operações financeiras em diferentes mercados. Quando suas taxas se elevam, há reflexos diretos sobre:
- O custo de financiamento das empresas e do governo;
- As condições de crédito global e o apetite por risco;
- A atratividade relativa de mercados emergentes, como o Brasil.
Nesse sentido, a curva dos títulos do Tesouro americano se tornou um termômetro da política monetária e da percepção de risco no cenário internacional.
Qual a influência da dívida dos EUA?
Outro fator de atenção é o nível recorde da dívida americana. Atualmente, os Estados Unidos acumulam cerca de US$ 36,2 trilhões, o equivalente a aproximadamente 120% do PIB. Desse montante, cerca de US$ 29 trilhões correspondem a títulos do Tesouro em circulação no mercado, reforçando a importância dos Treasuries como pilar do sistema financeiro global.
Esse endividamento elevado levanta dúvidas sobre a sustentabilidade fiscal de longo prazo. Ao mesmo tempo, mantém a pressão sobre o Fed e sobre os investidores, que monitoram não apenas a trajetória dos juros, mas também a capacidade de financiamento do governo americano.
O que esperar do Federal Reserve?
O mercado já precifica a possibilidade de cortes graduais nos juros. A moderação na inflação e o enfraquecimento do mercado de trabalho reforçam esse cenário. Entretanto, a decisão do Fed dependerá de novos dados econômicos e do discurso de seus dirigentes durante a conferência de Jackson Hole.
Se confirmada a redução da taxa básica em setembro, os Treasuries podem reagir com queda nas taxas de curto prazo, enquanto os prazos mais longos tendem a refletir expectativas de inflação e sustentabilidade fiscal. Nesse ambiente, investidores devem observar três pontos centrais:
- Ajustes na política monetária e no guidance do Fed;
- Avaliação do risco fiscal dos EUA diante do nível elevado de endividamento;
- Impacto das taxas dos Treasuries sobre os fluxos de capitais para economias emergentes.
Perspectivas para o mercado global
A trajetória dos Treasuries continuará ditando o tom dos mercados internacionais nos próximos meses. O movimento dos juros americanos pode influenciar desde o comportamento do dólar até a atratividade de bolsas de valores em países emergentes. Além disso, os investidores devem considerar que a volatilidade tende a se intensificar em momentos de incerteza política e fiscal nos EUA.
O cenário atual combina a expectativa de cortes de juros com o desafio do alto endividamento americano. Esse equilíbrio delicado manterá os Treasuries no centro das atenções do mercado, servindo como referência para estratégias de investimento e avaliação de riscos globais.