O acordo anunciado entre Estados Unidos e Japão foi recebido com entusiasmo por autoridades americanas e é visto como um passo estratégico para ambos os países. Para o economista e doutor em relações internacionais Igor Lucena, o movimento japonês representa um exemplo claro de pragmatismo comercial, algo que, segundo ele, o Brasil ainda não demonstrou neste novo cenário global.
Com base no novo pacto, o Japão obteve uma redução tarifária de 25% para 15% sobre exportações ao mercado norte-americano, além de sinalizar um compromisso com investimentos diretos nos Estados Unidos. Esses investimentos incluem garantias de crédito, financiamento e participação societária (equity) em grandes projetos de infraestrutura, pontos que coincidem com os objetivos do plano “Make America Great Again”, do presidente Donald Trump.
“O que os japoneses fizeram foi colocar na mesa o canto da sereia: baixar tarifas em troca de dinheiro no bolso. Eles ofereceram ao governo Trump um pacote completo, menos tarifa e mais investimento”, avaliou Lucena.
Segundo o economista, o acordo repercutiu positivamente entre os principais formuladores de política econômica dos EUA, incluindo o secretário do Tesouro, Scott Besant, e o próprio presidente Trump, que busca atrair capital externo para projetos de infraestrutura.
Além do Japão: União Europeia e Brasil em contraste
Na mesma semana em que os Estados Unidos sinalizaram aproximações comerciais com a Indonésia, Filipinas e Japão, a União Europeia manteve uma postura mais rígida, com ameaças de retaliações e impasses tarifários ainda em curso. Lucena observa que, mesmo com visões políticas distintas, países como o Japão demonstram habilidade em isolar a ideologia e manter o foco no interesse econômico.
“O Japão mostrou que, mesmo com diferenças políticas, sabe negociar com clareza. Enquanto isso, o Brasil segue em total desalinhamento com os Estados Unidos”, alertou o economista.
Lucena vê com preocupação o posicionamento recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente em discursos no exterior, como durante o encontro com o presidente chileno Gabriel Boric. Para ele, essas manifestações públicas não colaboram para o estreitamento de laços com os EUA.
“É preocupante ver o presidente Lula indo ao Chile falar sobre democracia em tom de crítica aos EUA, enquanto outros países batem à porta da Casa Branca em busca das melhores tarifas possíveis”, afirmou.
Setor automotivo no centro da negociação entre Japão e EUA
Lucena também destacou que o setor automotivo, historicamente sensível para Trump, foi abordado com êxito pelos japoneses, mesmo diante de resistências. O presidente dos EUA é conhecido por criticar a presença de carros japoneses no mercado americano, alegando que os EUA não conseguem competir de forma justa.
“Ainda assim, os japoneses conseguiram contornar a questão. Isso mostra que, com uma abordagem estratégica e focada, nada é incontornável”, disse o especialista.
Negociação entre Japão e EUA acende alerta para o Brasil
Para Lucena, o Brasil não está acompanhando a lógica atual das negociações comerciais internacionais. Ele observa que, enquanto outras nações atuam com propostas estruturadas e ofertas concretas, o Brasil permanece em uma postura reativa, pouco pragmática e sem coordenação estratégica.
“Há uma nova lógica sendo colocada em prática nas negociações internacionais. O Japão entendeu isso. A Indonésia entendeu. A China entendeu. E, em breve, a União Europeia vai se adequar. O Brasil, por outro lado, parece perdido”, concluiu.
O economista defende que o país adote uma abordagem mais técnica, focada em resultados comerciais e investimentos, afastando-se de disputas ideológicas que possam prejudicar acordos internacionais.