O mercado financeiro voltou a revisar para baixo suas projeções para a inflação oficial de 2025 pela sétima semana consecutiva, de acordo com o Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (14) pelo Banco Central. A mediana das estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou levemente, de 5,18% para 5,17%, mas permanece acima do teto da meta de inflação, fixado em 4,5% para o ano que vem.
A pesquisa semanal do BC, que compila expectativas de mais de 100 instituições financeiras, mostra que os agentes ainda veem dificuldades no cumprimento da meta, mesmo com a recente desaceleração da inflação subjacente e o recuo das commodities e do dólar no curto prazo.
Apesar da queda nas expectativas para o IPCA e para o IGP-M, a segunda alta consecutiva nas projeções para o IPCA de preços administrados — que inclui itens como energia elétrica, gasolina, água e transporte público — ligou o sinal de alerta entre os analistas.
Focus revisa levemente inflação para baixo
Para o economista Maykon Douglas, a elevação nas expectativas para os preços administrados em 2025 reflete um dado pontual, mas relevante: o resultado de junho do IPCA, divulgado na semana passada. “O dado veio cerca de 10 pontos-base acima da mediana esperada pelo Focus, o que provavelmente justificou essa revisão para cima”, afirma.
“Apesar disso, ainda estamos em um ambiente de surpresa de baixa nas principais métricas de inflação. Em junho, essa surpresa foi puxada quase exclusivamente pelo IGP-M, que veio bem abaixo das estimativas, devido ao recuo de preços no atacado”, pontua o economista.
Mesmo com a recente pressão, Maykon lembra que a mediana para a inflação de administrados em 2025 já caiu mais de 60 pontos-base desde março, quando atingiu seu pico. “Isso mostra que estamos em um cenário bem mais benigno do que no início do ano, principalmente por conta do enfraquecimento do dólar”, explica.
O dólar mais fraco reduz os custos de importação e tem impacto direto sobre vários preços regulados, como combustíveis e energia. Ainda assim, o economista adverte que a volatilidade do câmbio e o ambiente político doméstico podem reacender pressões inflacionárias nos próximos meses.
Boletim Focus: Banco Central mira inflação de médio prazo para conduzir juros
Segundo as regras do sistema de metas de inflação, o Banco Central precisa calibrar a taxa básica de juros (Selic) para tentar manter o IPCA dentro do intervalo de tolerância da meta. O diferencial é que a política monetária atua com defasagem de seis a 18 meses, ou seja, o BC toma decisões com base em projeções futuras.
Atualmente, o foco da autoridade monetária está na inflação acumulada em 12 meses até meados de 2026, já que os efeitos das decisões atuais só serão sentidos com força no próximo ano.
Desde janeiro de 2025, o novo modelo de metas obriga o Banco Central a observar o comportamento da inflação em janelas móveis de 12 meses. Caso o IPCA fique fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, o BC terá que escrever uma carta pública ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando as razões para o descumprimento da meta e apontando os planos para trazer a inflação de volta ao centro da banda.
Outros destaques do Focus:
Indicador | Projeção 2025 | Projeção 2026 | Projeção 2027 | Projeção 2028 |
---|---|---|---|---|
IPCA (inflação) | 5,17 % | 4,50 % | 4,00 % | 3,80 % |
Preços administrados (IPCA) | 4,40 % | 4,29 % | 4,00 % | 3,70 % |
IGP‑M | 2,18 % | 4,50 % | 4,00 % | 3,96 % |
Câmbio (R$/US$) | 5,65 R$ | 5,70 R$ | ~5,71 R$ | 5,76 R$ |
PIB (crescimento) | 2,23 % | 1,89 % | 2,00 % | 2,00 % |
Selic (taxa básica de juros) | 15,00 % | 12,50 % | 10,50 % | 10,00 % |