A desaceleração da economia da China, observada nos últimos meses por meio de indicadores como deflação e menor ímpeto de crescimento, não representa necessariamente um enfraquecimento do papel do país no cenário internacional. Essa é a avaliação do professor Marcus Vinicius de Freitas, especialista em relações internacionais, em entrevista à BM&C News.
“A China está em um momento de transição. Sai de um modelo de crescimento orientado à exportação, como o japonês, e caminha para um modelo baseado no consumo interno”, explicou Freitas. Essa mudança, segundo ele, ocorre em meio a um cenário global desafiador, com economias ainda em recuperação pós-pandemia, especialmente na Europa, que era um dos principais parceiros comerciais da China.
EUA em xeque e a força do consumo interno da China
Freitas também questionou o otimismo exagerado em relação ao crescimento dos Estados Unidos. “É difícil entender como uma economia com uma dívida de US$ 36 trilhões consegue manter um crescimento celebrado por tantos. Isso, pra mim, continua sendo uma mágica econômica difícil de explicar”, provocou.
Para o professor, mesmo com crescimento de um dígito, a China continua desempenhando um papel central na economia global. “Hoje, um dígito de crescimento chinês tem o mesmo peso que os dois dígitos do passado”, apontou, destacando que o país ainda tem muito espaço para avançar rumo a uma renda per capita entre 20 e 25 mil dólares até 2049.
“Uma China com renda per capita de 20 mil dólares vai ter um impacto imenso na economia mundial, porque o chinês é tão consumista quanto o americano”, ressaltou.
A economia da China e as oportunidades para o Brasil
De acordo com Freitas, o Brasil precisa estar atento a esse movimento. Caso contrário, corre o risco de se tornar apenas fornecedor de matérias-primas sem conseguir atender à nova demanda chinesa. “Se nós não acompanharmos esse tipo de crescimento, estamos lascados. O chinês vai querer comprar produto brasileiro e a gente não vai ter produto para entregar no mercado”, alertou.
Ele também apontou que o crescimento do Sudeste Asiático e da Índia oferece novas oportunidades comerciais além da China, mas reforçou a necessidade de o Brasil se adaptar para aproveitar a demanda de um consumidor chinês mais ativo, sofisticado e exigente.