A Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados aprovou, em junho de 2025, um requerimento que solicita à Procuradoria-Geral da República (PGR) a abertura de investigação contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O pedido, apresentado pelo deputado federal Evair de Melo, tem como foco apurar possíveis interferências do chefe do Executivo em investigações sobre fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O documento aguarda decisão do presidente da Câmara, Hugo Motta, para ser oficialmente encaminhado à PGR. A solicitação surgiu após declarações públicas de Lula sobre as apurações conduzidas pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU), especialmente no que diz respeito à orientação para que os órgãos atuassem com cautela diante das denúncias de irregularidades.
O que motivou o pedido de investigação do INSS contra Lula?
O requerimento destaca que o presidente, ao orientar a PF e a CGU a agirem com “muita cautela” para evitar “crucificações” de entidades investigadas, teria ultrapassado os limites de sua função. Segundo os parlamentares, essa postura pode ser interpretada como uma tentativa de influenciar ou condicionar o trabalho dos órgãos de controle, que, por lei, devem atuar com total independência e isenção técnica.
Além disso, o documento menciona o envolvimento de José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, irmão de Lula, com uma das entidades sob investigação. Frei Chico já presidiu o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), que está entre as organizações suspeitas de práticas irregulares, como descontos indevidos em benefícios previdenciários.
Crime de responsabilidade: o que está em jogo?
A principal acusação levantada no requerimento é a possibilidade de Lula ter cometido crime de responsabilidade. De acordo com a legislação brasileira, esse tipo de infração ocorre quando o presidente utiliza sua autoridade para influenciar investigações em benefício próprio, de aliados políticos ou de familiares. O texto faz referência ao caso de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, ocorrido em 2016, para ilustrar a gravidade da situação.
O conceito de crime de responsabilidade está previsto na Constituição Federal e na Lei 1.079/1950. Entre as condutas consideradas ilícitas estão atos que atentem contra a probidade na administração, o livre exercício dos poderes e o cumprimento das leis. Caso a PGR entenda que há indícios suficientes, o processo pode avançar para o Congresso Nacional, onde os parlamentares decidem sobre a admissibilidade de um eventual processo de impeachment.
Quais são os próximos passos após a aprovação do requerimento?
Após a aprovação na Comissão de Segurança Pública, o requerimento depende do aval do presidente da Câmara para ser encaminhado à PGR. Se autorizado, caberá à Procuradoria analisar os fatos apresentados e decidir se instaura ou não um procedimento investigatório. O andamento desse tipo de apuração costuma envolver a coleta de depoimentos, análise de documentos e eventual solicitação de informações adicionais aos órgãos envolvidos.
Em situações semelhantes, a tramitação pode se estender por meses, dependendo da complexidade dos fatos e do volume de provas a serem analisadas. Caso sejam identificados indícios de crime de responsabilidade, o caso pode ser remetido ao Congresso, onde a abertura de um processo de impeachment exige maioria qualificada dos deputados federais.

Entenda o papel da PF e da CGU nas investigações do INSS
A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União desempenham funções essenciais no combate a fraudes e irregularidades em órgãos públicos, como o INSS. A PF é responsável por investigações criminais, enquanto a CGU atua na fiscalização e auditoria de processos administrativos. A autonomia desses órgãos é considerada fundamental para garantir a lisura das apurações e a responsabilização de eventuais envolvidos.
- Polícia Federal: conduz inquéritos, coleta provas e encaminha denúncias ao Ministério Público.
- Controladoria-Geral da União: realiza auditorias, apura desvios e propõe medidas corretivas na administração pública.
A atuação conjunta dessas instituições é vista como um dos principais mecanismos de controle e transparência no setor público, especialmente em casos que envolvem grandes volumes de recursos e potenciais prejuízos aos cofres públicos.
O que pode acontecer se a investigação do INSS avançar?
Se a PGR decidir abrir investigação formal, o presidente poderá ser chamado a prestar esclarecimentos. Dependendo dos desdobramentos, o caso pode resultar em denúncias criminais ou em um processo político no Congresso. O histórico recente do país mostra que denúncias por crime de responsabilidade têm potencial para desencadear crises institucionais e impactar o cenário político nacional.
O tema segue em debate entre parlamentares, juristas e especialistas em direito público, que acompanham de perto os desdobramentos do caso. A expectativa é que as próximas semanas sejam decisivas para definir os rumos da apuração e as possíveis consequências para o governo federal.