As companhias aéreas brasileiras têm buscado diversificar as formas de pagamento disponíveis para seus clientes. Recentemente, a Azul e a Gol começaram a permitir que as passagens aéreas sejam pagas utilizando o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) através do saque-aniversário. Essa iniciativa visa oferecer mais flexibilidade financeira para os consumidores, principalmente em um cenário econômico desafiador.
No entanto, especialistas advertem que o uso do FGTS para compras de consumo pode comprometer a estabilidade financeira dos trabalhadores a longo prazo, uma vez que essa opção funciona como um empréstimo com a aplicação de juros. A prática envolve a antecipação dos saques anuais do fundo, o que pode levar a um comprometimento financeiro futuro.
Como Funciona o Pagamento com FGTS?
O pagamento de passagens aéreas com o FGTS se dá por meio de uma parceria das companhias aéreas com bancos, como o caso do Digio, vinculado ao Bradesco. Os clientes podem antecipar até dez anos de saques, desde que tenham no mínimo R$ 300 disponíveis no fundo. As transações envolvem a antecipação do saldo do fundo, com a necessidade de pagar juros ao banco que realiza a operação.
Na Azul, os clientes podem utilizar o FGTS para pagamentos, desde que a reserva seja feita com uma antecedência mínima de 28 dias antes da viagem. Já na Gol, o intervalo necessário entre a compra e a viagem é de apenas quatro dias. Um ponto importante é que a reserva deve ser paga integralmente com o saldo, e o titular da conta do FGTS deve estar entre os viajantes.
Quais São os Riscos de Usar o FGTS Dessa Forma?
Utilizar o FGTS como forma de antecipação de saques para custear despesas de consumo possui riscos, conforme apontam diversos especialistas em finanças. Ao optar por essa modalidade, o trabalhador está comprometendo um recurso que poderia ser valioso para necessidades futuras, como aposentadoria ou demissões imprevistas. Além disso, os juros aplicáveis ao empréstimo atrelado ao saque podem elevar o custo final da transação.
Érico Veras, pesquisador de Finanças Comportamentais, destaca que a prática pode ser prejudicial, uma vez que diminui o montante disponível no futuro. Isso reforça a importância de avaliar cuidadosamente o uso do FGTS para fins de consumo e de ponderar sobre as alternativas disponíveis.
Alternativas de Uso para o FGTS

O FGTS foi criado para servir como uma rede de segurança financeira, além de ser utilizado para a compra de imóveis ou em situações de vulnerabilidade, como na demissão sem justa causa. Ricardo Teixeira, coordenador de MBA de Gestão Financeira, sugere que o trabalhador considere investir o montante em opções que ofereçam maior rentabilidade em vez de simplesmente consumir o valor.
Ao investir em produtos financeiros, o trabalhador pode assegurar um crescimento do capital ao longo do tempo, o que pode ser mais vantajoso do que utilizá-lo para pagar passagens aéreas. Esta abordagem busca manter a integridade do fundo como uma forma de poupança para tempos de necessidade.
Entenda as Diferenças entre Saque-Aniversário e Saque-Rescisão
O saque-aniversário permite que anualmente, no mês de aniversário, o trabalhador retire uma porcentagem do seu saldo de FGTS. No entanto, optar por essa modalidade impossibilita o saque integral do fundo em caso de demissão sem justa causa. Por outro lado, o saque-rescisão, que é a modalidade padrão, autoriza o saque total, inclusive a multa rescisória, em situações de desligamento.
Trabalhadores podem mudar de uma modalidade para outra, mas é necessário aguardar três anos após o pedido para retornar ao saque-rescisão. Essa decisão deve ser feita com cautela, levando em conta o planejamento financeiro individual e a situação econômica geral.