A economia dos Estados Unidos vive um momento delicado, com a crescente dívida pública e a alta recente dos Treasuries. Esse aumento reflete o temor dos investidores em relação à sustentabilidade fiscal do país e a expectativa de juros elevados por mais tempo. A combinação entre uma política fiscal expansionista e uma economia já aquecida preocupa economistas e gestores, como destacou o especialista em análise macro, Fábio Fares. Segundo ele, a situação pode reacender a inflação e complicar ainda mais as ações do Federal Reserve (FED) para controlar o cenário econômico.
“O grande medo do mercado é que qualquer um dos dois que ganhe, seja Trump ou Kamala, tenha a maioria no Senado e na Câmara”, destacou o analista. Fares destaca que de um lado, se tem um governo que gasta muito, e do outro, um governo com cortes de impostos e estímulos. “O plano de governo de Trump, com cortes de impostos e estímulos, é fiscalmente ruim aos Estados Unidos porque reduz a arrecadação e em paralelo, uma dívida, que já está batendo 6,5% do PIB. Estamos vendo os juros em patamares altos e uma pressão crescente sobre o mercado,” analisou Fares. Em contrapartida, Fares comenta que o fiscal dos democratas também é ruim, com a maior distribuição de benefícios, que se torna caro para o Estado.
A aposta do mercado: desvalorização dos títulos e inflação em alta
Recentemente, dois renomados investidores, Stanley Druckenmiller e Paul Tudor Jones, expressaram publicamente suas preocupações em entrevistas. Ambos estão apostando na desvalorização dos títulos do governo americano e alertam que o cenário atual pode levar a uma nova explosão inflacionária em 2024.
Eleições e o papel de Trump no cenário fiscal
Com Donald Trump liderando as pesquisas para as eleições de 2024, cresce o temor de que sua política econômica possa ampliar o déficit fiscal. Fares acredita que, embora Trump esteja propondo medidas populistas em sua campanha, ele pode adotar uma postura mais conservadora inicialmente para evitar que uma inflação galopante prejudique seu governo. O especialista ainda destacou que a inflação americana está controlada por conta da desaceleração da economia chinesa. “A inflação está temporariamente controlada por causa da desaceleração da China, que está exportando deflação. No entanto, se a China voltar a crescer e impulsionar o preço das commodities, a inflação nos Estados Unidos pode retornar com força”, explica Fares.
Resultados corporativos e pressão econômica
Paradoxalmente, o bom desempenho das empresas americanas adiciona complexidade ao cenário econômico. O crescimento das corporações garante mais empregos e eleva a massa salarial, o que impulsiona o consumo e pode gerar novas pressões inflacionárias. Esse ciclo de crescimento econômico dificulta a tarefa do Federal Reserve de controlar a inflação sem comprometer o emprego.