A ascensão das apostas online no Brasil trouxe à tona uma nova e perigosa tendência: o crescente número de brasileiros que perdem parte significativa de seu patrimônio ao tentar transformar as apostas em uma fonte de renda. Para Gustavo Cerbasi, mestre em finanças, escritor, consultor financeiro e sócio da SuperRico, o fenômeno é uma consequência direta da falta de educação financeira, que torna as pessoas vulneráveis às promessas de enriquecimento rápido.
“O brasileiro não está preparado para lidar com os riscos financeiros que envolvem o mercado de apostas. A falta de uma base educacional sólida nos torna suscetíveis a campanhas publicitárias que estimulam o jogo como uma solução fácil para problemas financeiros”, afirma Cerbasi. Segundo ele, a combinação de um baixo nível de educação e a cultura de atalhos leva ao que chama de “efeito bola de neve” nas finanças pessoais.
Dados que explicam o problema
Estatísticas recentes indicam que 60% dos apostadores online no Brasil gastam mais do que podem perder, e cerca de 45% acabam se endividando após apenas três meses de apostas frequentes. A média de perda financeira dos brasileiros nesse mercado está em torno de R$ 2.500 por mês, um valor que pode desestabilizar completamente famílias de baixa e média renda.

Gustavo Cerbasi, palestrante e autor de 16 livros com mais de 3 milhões de exemplares vendidos, entre eles o best-seller “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos”, ainda destaca que, embora o mercado de apostas esportivas tenha crescido cerca de 90% no último ano no Brasil, a falta de uma regulamentação eficaz e de campanhas de conscientização agrava o problema. “Em países onde há uma tradição mais longa de apostas, como a Inglaterra, existe uma educação financeira que acompanha o mercado. No Brasil, temos um crescimento descontrolado sem uma estrutura adequada para educar e proteger o consumidor”, ressalta o especialista.
O ciclo da perda
Para Lucas Tylty, CEO do Grupo OTG e influenciador de apostas esportivas, o problema está no fato de que muitos entram no mercado de apostas sem o devido preparo, acreditando que é possível ganhar dinheiro rapidamente. “Eu sempre digo que apostar não é brincar. Existem estratégias e cálculos, e quem não entende isso acaba perdendo dinheiro”, explica Lucas, que hoje educa apostadores para evitar que caiam nas armadilhas do mercado.
Ele afirma que o desconhecimento é o grande vilão. “As casas de apostas sabem como prender o apostador: oferecem bônus, cupons e gratificações para incentivar mais apostas, mas por trás disso estão gatilhos psicológicos que induzem o consumidor a gastar mais do que deveria. Sem controle e conhecimento, o jogador se perde nesse ciclo”, completa.

A necessidade de regulamentação
Cerbasi acredita que a falta de uma regulamentação adequada no Brasil está agravando a situação. “Nos países onde o mercado de apostas é regulamentado, como o Reino Unido, há proteções que impedem que o jogador entre em uma espiral de perdas. Além disso, o nível de educação financeira é muito maior. No Brasil, as campanhas publicitárias das casas de apostas são sedutoras e desregulamentadas, o que aumenta o risco”, comenta.
Ele também alerta que é preciso agir rapidamente para evitar uma crise social de grandes proporções. “Se continuarmos nesse ritmo, o impacto será devastador para a economia de muitas famílias. O endividamento já é uma realidade para grande parte da população, e as apostas estão ampliando esse cenário de forma alarmante”, reforça Cerbasi. O governo federal iniciou o processo de regulamentação das bets e nessa semana atualizou a lista das empresas que estão autorizadas a funcionar no país. Leia mais abaixo.
Caminhos para reverter o cenário
Ambos os especialistas concordam que a educação financeira é a chave para reverter essa situação. Cerbasi aponta que a falta de planejamento financeiro é o maior vilão. “O brasileiro busca soluções rápidas e não se preocupa com o longo prazo. Precisamos educar a população para entender que a construção de riqueza exige tempo, disciplina e conhecimento. As apostas são apenas um atalho que, na maioria das vezes, leva à perda patrimonial”, alerta.
Tylty diz que a solução também passa pela conscientização. “Sempre tento mostrar às pessoas que é possível ganhar dinheiro com apostas, mas de forma responsável e educada. Não é uma brincadeira, é um investimento, e como qualquer investimento, exige estudo e planejamento”, finaliza.
A regulamentação das apostas on-line no Brasil
Nesta semana, o governo brasileiro atualizou a lista de empresas de apostas esportivas de cotas fixas, as chamadas bets, autorizadas a operar no Brasil até o final deste ano. Agora, 93 empresas, com um total de 205 bets, estão regularizadas. A nova lista corrigiu erros da primeira versão, incluindo empresas que não haviam sido notificadas corretamente e ajustando questões técnicas relacionadas à autorização. Essas mudanças visam aumentar o controle sobre o mercado de apostas e coibir a operação de sites ilegais.
A partir de 11 de outubro de 2024, sites de apostas que não constarem na lista oficial serão removidos do ar com o apoio da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), mas esses sites deverão continuar funcionando apenas para que os apostadores possam sacar seus depósitos pendentes. Essas novas regulamentações também estabelecem que, a partir de janeiro de 2025, todas as bets aprovadas deverão migrar para o domínio específico bet.br, o que permitirá maior monitoramento e fiscalização das atividades de apostas no Brasil.