Um novo estudo mostrou, pela primeira vez, que uma imunoterapia injetável pode reduzir o risco de recidiva do câncer de bexiga quando combinado com a quimioterapia após cirurgia de remoção do órgão. O trabalho foi publicado na The New England Journal of Medicine e apresentado no Congresso Europeu de Oncologia, em Barcelona, Espanha.
O estudo, chamado NIAGARA, mostrou que a incorporação do Durvalumabe, imunoterapia injetável, ao tratamento aumentou em 34% a chance de resposta patológica completa. Isso leva a uma redução de 32% no risco de recidiva após o término do tratamento.
Como funciona a nova abordagem?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a American Cancer Society, 614 mil pessoas são diagnosticadas com câncer de bexiga todos os anos, sendo o nono tipo mais frequente. A doença é mais comum em homens e o principal fator de risco é o tabagismo, além de exposição ocupacional a produtos químicos.
O principal sintoma do câncer de bexiga é a presença de sangue na urina, que pode vir acompanhado de dor pélvica e ardência ou dor ao urinar. O tumor é diagnosticado por meio de exames de imagem e cistoscopia, onde fragmentos são colhidos para realizar uma biópsia.
O estudo NIAGARA apresentou resultados promissores ao demonstrar que a inclusão do Durvalumabe, um medicamento de imunoterapia, no tratamento de determinados tipos de câncer, resultou em um aumento significativo na taxa de resposta patológica completa. Em outras palavras, mais pacientes apresentaram uma completa eliminação do câncer após o tratamento quando o Durvalumabe foi utilizado.
O Durvalumabe é um inibidor de checkpoint imune. Ele age estimulando o sistema imunológico do próprio paciente a reconhecer e atacar as células cancerígenas. Ao fortalecer as defesas do organismo, o medicamento ajuda a eliminar o tumor de forma mais eficaz.
Principais benefícios observados:
- Aumento da taxa de resposta: O estudo revelou um aumento de 34% na chance de os pacientes alcançarem uma resposta patológica completa, o que significa que o tumor desapareceu completamente após o tratamento.
- Redução do risco de recidiva: Ao eliminar o tumor de forma mais eficaz, o uso do Durvalumabe também levou a uma redução de 32% no risco de o câncer retornar após o término do tratamento.
O Impacto da imunoterapia no tratamento do câncer de bexiga
Existem dois tipos de pacientes com câncer de bexiga: aqueles com tumor superficial e aqueles com tumor infiltrado na musculatura. Atualmente, o tratamento varia desde remoção parcial da bexiga até remoção completa do órgão. Estudos anteriores mostraram que a quimioterapia antes da cirurgia melhora a expectativa de cura, tornando essa a abordagem padrão.
Apesar do tratamento atual ser efetivo, a recidiva e a expectativa de vida apresentavam desafios significativos. A inclusão da imunoterapia na abordagem terapêutica pode reverter esse cenário, apresentando uma solução mais eficaz para pacientes com câncer de bexiga.
Como o estudo foi feito?
O estudo incluiu 1.063 pacientes com câncer de bexiga, divididos em dois grupos: quimioterapia convencional e quimioterapia combinada com imunoterapia antes e após a cirurgia. “A imunoterapia age estimulando o sistema imunológico a atacar as células tumorais”, explica Ariel Kann, coordenador do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e coautor do estudo.
Os que passaram pelo tratamento com imunoterapia tiveram uma menor chance de recidiva do tumor. Essa abordagem é indicada para pacientes com câncer de bexiga localizado, ou seja, que ainda não se espalhou para outros órgãos.
Próximos passos para o tratamento do câncer de bexiga
Na visão de Kann, a descoberta pode mudar a prática clínica de pacientes com câncer de bexiga. No entanto, os resultados ainda devem ser apresentados às agências reguladoras, como a Anvisa no Brasil. Bruno Benigno, urologista e oncologista do Hospital Oswaldo Cruz, observa que a imunoterapia é uma medicação cara e ainda não incorporada no sistema público de saúde.
Outro desafio é identificar o desaparecimento do tumor antes da cirurgia de remoção. “Até 25% dos pacientes tratados não apresentavam mais o tumor na cirurgia, mas o desafio é identificar esse desaparecimento antes da remoção,” comenta Benigno. Marcarores sanguíneos ou urinários poderiam garantir a regressão completa do tumor, permitindo a preservação da bexiga.
Segundo Kann, o objetivo é tratar os pacientes sem necessidade de cirurgia. “O próximo passo é analisar quais pacientes precisam de todas as doses e quais precisam de aumento no ciclo de medicação,” afirma. Isso está sendo investigado para, quem sabe, poupar os pacientes da cirurgia da bexiga.
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