Os mercados acionários do Japão entraram no terceiro dia de queda consecutiva, com dados fracos de empregos nos EUA e a valorização do iene abalando a confiança dos investidores globais. Às 10h da manhã de segunda-feira no Japão, às 22h do domingo horário de Brasília, o índice Nikkei recuava 5,47%, enquanto o Topix chegou a entrar em circuit breaker, com as negociações interrompidas. As ações do Mitsubishi UFJ, o maior banco japonês, caíram mais de 21%.
Os índices Topix e Nikkei 225 caíram mais de 7% nas negociações matinais em Tóquio, acumulando uma queda superior a 20% nos últimos dias. Estas perdas representam as piores desde o tsunami de 2011 e o desastre nuclear de Fukushima.
Além disso, a valorização do iene, impulsionada pela elevação das taxas de juros pelo Banco do Japão (BoJ), tem reduzido as operações de carry trade e prejudicado as empresas japonesas, que dependem fortemente das exportações. O iene apresentou uma valorização de 14% em relação ao dólar nas últimas três semanas, contribuindo para o cenário adverso.
Com isso, a aversão ao risco se espalhou pelos mercados globais, com os índices europeus operando em queda acima de 2% e os futuros dos índices americanos apontando para fortes quedas também, podendo impactar negativamente toda a semana dos índices.
Opinião dos nossos especialistas:
O economista VanDyck Silveira conversou com o portal da BM&C News nesta manhã e analisou a situação e fez algumas críticas sobre o comportamento do mercado em relação a desvalorização.
Silveira afirmou que “o mercado frequentemente reage de maneira exagerada a notícias econômicas e geopolíticas. É essencial que os investidores mantenham uma perspectiva de longo prazo e baseiem suas decisões em análises fundamentadas, em vez de se deixarem levar por boatos e emoções do momento.”
Outro especialista que conversou com o nosso Portal de notícias foi o William Castro Alves, Estrategista-Chefe da Avenue, que também comentou ressaltou que a aversão ao risco se espalhou pelos mercados globais.
Ele apontou alguns vetores que contribuíram para o movimento de queda, como os receios de uma desaceleração econômica nos EUA, a elevação das taxas de juros no Japão, realizações de lucros no setor de tecnologia, e tensões geopolíticas no Oriente Médio.
O índice VIX de volatilidade saltou 112%, atingindo o maior patamar desde 2020, durante a pandemia. Embora a reação do mercado possa parecer exagerada, Alves enfatiza a importância de manter a calma e a parcimônia. Ele observa que a economia americana já enfrentou 48 recessões em sua história, e o dólar continuou sendo a principal moeda de reserva de valor global. No curto prazo, ações tendem a sofrer, enquanto ativos de renda fixa podem se valorizar devido à queda nas curvas de juros.
Alexandre Espirito Santo, Economista Way Investimentos e Professor da ESPM também deu sua opinião sobre todo esse impacto mundial.
O economista comentou sobre a situação, afirmando: “O que temos visto nos últimos meses são glutões, famintos por risco, se empanturrando de mais riscos, alicerçados na hipótese de um Fed que promete servir uma bandeja com algumas poucas quedas de juros.” Segundo ele, essa confiança excessiva nos cortes de juros, sem considerar os riscos de uma possível recessão, tem levado os preços dos ativos de risco, como ações, a perderem a aderência com os fundamentos reais.
Espirito Santo acrescenta que a incerteza sobre o controle da inflação e o medo de uma recessão embutida na curva de juros aumentam a volatilidade do mercado. “A essa altura do campeonato, nem sei se serão [as quedas de juros] porque a inflação está controlada ou por medo da recessão.” Essa análise destaca como a especulação e a falta de fundamentos econômicos sólidos podem contribuir para movimentos bruscos no mercado, reforçando a necessidade de uma abordagem mais cautelosa e fundamentada por parte dos investidores.
Por fim, Fabio Fares, especialista em análise macro, aponta que “isso é desmanche de carry trade. O BoJ subiu juros e drenou liquidez quando a maioria achava que ele iria esperar. Aí deu pânico.” Essa inesperada decisão do Banco do Japão (BoJ) de aumentar as taxas de juros surpreendeu os mercados, gerando um efeito cascata que se espalhou globalmente.
Fares explica que a economia dos EUA, embora esteja longe de uma recessão, está sendo usada como pano de fundo para justificar o pânico. “Junta isso com uma economia mais fraca nos EUA e medo de guerra no Oriente Médio. É a tempestade perfeita,” afirma. Ele destaca que o principal gatilho para essa reação foi a alta de juros no Japão, que levou ao desmanche da farra com o carry trade. “As pessoas pegavam grana barata no Japão e comprava tech, cripto, tudo que está derretendo.” Com o iene se fortalecendo após décadas de taxas de juros zero, posições excessivamente alavancadas em carry trade estão sendo desfeitas, exacerbando a volatilidade no mercado.
Os mercados japoneses enfrentam uma tempestade perfeita de fatores econômicos e geopolíticos, resultando em perdas significativas. A valorização do iene, as taxas de juros elevadas e os dados fracos de empregos nos EUA são desafios que exigem atenção dos investidores. A orientação dos especialistas é manter a calma e observar as oportunidades que podem surgir em meio à volatilidade.