Segundo a análise de Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira, o Ibovespa caiu com peso dos dados divulgados nos EUA, mas diminui a queda com a alta de Petrobras, após o anúncio de pagamento de R$ 94,35 bilhões em dividendos, sendo cerca de R$ 22 bilhões em formato de dividendos extraordinários, notícia que agradou o mercado e que faz os papeis subirem.
A gente teve hoje dados do PIB vindo bem abaixo do esperado, que deixaram bolsas aqui e lá fora negativas. A expectativa para o PIB americano era de um crescimento de 2,4% e veio 1,6%. No momento da divulgação, a nossa Bolsa teve um forte impulso para cima.
Mas, logo depois, o mercado olhou com calma e viu também que o índice de preço do PIB veio bem acima do esperado, mostrando, de certa forma, uma inflação ainda alta. Não é a principal medida de inflação, pois teremos uma maior norção dos dados amanhã com o PCE. Mas mostra que temos dados divergentes. Depois, tivemos ainda os dados de pedidos semanais de auxílio-desemprego registrando uma queda, totalmente fora do esperado, o que mostra ainda o mercado muito aquecido por lá, o que preocupa ainda mais os investidores.
Temos um cenário cada vez mais difícil de prever o que vai acontecer para a frente. Então, a gente teve as bolsas bem voláteis com a divulgação desses dados, mas depois voltaram para o cenário negativo. Tudo isso por causa da imprevisibilidade e insegurança que esses dados trazem. A gente não tem ideia do que vai acontecer daqui para frente e de quando teremos uma queda de juros nos EUA.
Amanhã, os dados do PCE podem ajudar a termos uma visão um pouco melhor. Na minha opinião, nada muda por enquanto. Tentativa de início de queda de juros dos EUA talvez venha em julho, mas ainda acho esse cenário muito incerto com esses dados sendo divulgados. Cada vez mais essa incerteza aumenta e, com isso, as bolsas sofrem, inclusive a bolsa brasileira, que também é afetada com o cenário fiscal.
Aliás, aqui no Brasil, a inflação no Brasil tem vindo um pouco acima do esperado e Roberto Campos Neto já tem demonstrado que os juros podem continuar caindo, mas não no patamar de 0,50% como aconteceu nas últimas reuniões. Isso muito devido também às mudanças na meta do arcabouço fiscal, o que traz o sentimento de incerteza. O nosso arcabouço foi definido há menos de um ano atrás e o governo já está usando artifícios para mudar, o que não é positivo. Qualquer indicador vindo acima, o Banco Central vai ser muito cauteloso e não irá diminuir os juros no mesmo patamar sem o cuidado com o controle da inflação.
Já quem diga lá fora que os juros não vão cair nesse ano nos Estados Unidos. Se isso acontecer, vai ser uma catástrofe, levando em consideração a política econômica com a meta de arcabouço sendo revista para os próximos dois anos. E isso tira qualquer tipo de credibilidade do país. Com os juros altos nos EUA, não tem porque o investidor colocar dinheiro no Brasil. A gente atingiu aí cerca de R$ 30 bilhões retirados na Bolsa até agora nesse ano e estamos apenas no quarto mês do ano sendo que todos os meses tiveram fluxo negativo até agora. Muito dinheiro que o investidor está tirando daqui. Isso é um sinal de que nem tão cedo a Bolsa vai subir de fato e isso faz com que o dólar suba e os juros futuros também subam. Por isso, temos visto essa alta da moeda nos últimos dias que não arrefece.
Entre as altas, além de Petrobras, temos empresas do setor de educação como Cogna e Yduqs. Cogna sobe após o JPMorgan elevar a recomendação para a compra do papel. O banco elevou a recomendação passando de neutro para overweight afirmando que o pior já passou para o setor de educação, o que também respingou em Yduqs, entre as maiores altas. Outra alta é de Klabin, que anunciou mais cedo o pagamento de R$ 330 milhões em dividendos, o que agradou os investidores do papel.
Já entre as quedas, temos empresas aéreas como a Azul. São empresas que sentem de forma negativa a alta do dólar, pois muitos dos custos das companhias estão diretamente ligadas à moeda, como o próprio querosene de aviação, que é precificado em dólar.