Durante a campanha presidencial de 2022, o mercado financeiro questionava se, caso eleito, o governo Lula seria mais parecido com o seu 1º mandato ou o 2º mandato. Badalados gestores e alguns economistas do Plano Real fizeram o L, acreditando que Lula seria pragmático e faria um governo mais ao centro.
Já acreditei em muitas besteiras, mas nunca comprei esta história. Primeiro, pela ausência de um plano econômico durante a campanha. Segundo, porque declarações de petistas emblemáticos, como o próprio José Dirceu, davam a entender que não seria o Lula do 1º mandato. Aliás, o próprio Guilherme Boulos fez um diagnóstico preciso da estratégia petistas durante entrevista ao Roda Viva. Segundo ele, colocar Alckmin na vice presidência seria uma forma de acalmar o mercado financeiro, mas Lula não faria um governo alinhado com a agenda liberal da Faria Lima, muito pelo contrário.
Outro ponto relevante é que não haveria nenhum incentivo pessoal e nem partidário para Lula fazer um governo mais liberal. Pelo contrário, Lula entraria para o seu 3º mandato, com idade avançada (dificilmente teria saúde e energia para um 4º mandato), provavelmente imbuído de um sentimento revanchista.
Do ponto de vista de incentivo partidário, bastava analisar as vitórias das esquerdas na América Latina. Nenhum governo adotou uma agenda liberal. Pelo contrário, Peru, Colômbia e até o Chile deram uma guinada bem à esquerda na política econômica.
Apesar de todos estes sinais, Lula foi eleito com o apoio de parte de gestores e economistas da Faria Lima. E, logo nos primeiros dias de governo, essa turma ficou receosa com os rumos tomados pelo país.
Ataques do presidente ao Banco Central, PEC da Transição abrindo espaço de quase R$200 bilhões de reais de gastos fora da Regra do Teto, indefinição de uma âncora fiscal, ausência de uma agenda propositiva e um plano para economia, volta das ideias de financiamento de empresas via BNDES com juros subsidiados pela população, discurso voltado apenas para arrecadação, e não para o corte de despesas, são alguns dos fatores que deixaram o mercado apreensivo com os rumos da economia brasileira.
Diante de todas estas evidências, fica claro que o governo Lula não tem nem a cara do seu primeiro e nem de seu segundo mandato; mas é mais parecido com um governo Dilma turbinado. Muitos apoiadores do L, da “frente pela Democracia”, do fascismo imaginário, já pularam do barco, dizendo surpresos com a guinada à esquerda desenvolvimentista e heterodoxa do atual governo.
Tenho minhas dúvidas se tiveram um arrependimento genuíno, admitindo toda a sua ignorância na área política ou se agora tecem críticas para fazer um hedge (proteção) de suas reputações.
De qualquer modo, cabe uma reflexão: o fato de uma pessoa ser uma grande especialista em determinada área, não a habilita necessariamente a fazer boas análises sobre outros temas. Aliás, Ortega Y Gasset, em seu antológico livro “Rebelião das Massas”, já chamava a atenção para sobre o “homem massa” – o super especialista que, por ser bem sucedido em sua área, acredita ter ao capacidade de fazer boas análises sobre qualquer assunto.
O “homem massa” de Gasset nunca esteve tão presente nas eleições de 2022. Os badalados gestores acharam que entendiam de política, comprando Lula 1, quando na verdade terão Dilma 3.