Poucas ações sofreram tanto quanto a queridinha do mercado há alguns anos. Os ativos da Magazine Luiza (MGLU3) sofreram um baque forte durante todo o ano, mas principalmente a partir do segundo trimestre. No acumulado do ano até 23 de dezembro, o papel da empresa caiu 75,1%. Apesar disso, essa queda não foi apenas da Magalu, mas de todo o setor de varejo. Até o dia 10 de dezembro, pelo menos um quarto de valor por ação foi perdido entre cinco varejistas.
A Via (VIIA3), que trocou o nome e o ticker em agosto, caiu 57,59% desde a introdução do novo código de negociação. A empresa se chamava Via Varejo e tinha o ticker VVAR3 antes da troca. Segundo a companhia, na época, o novo ticker e posicionamento da marca institucional reforçam “a estratégia de ser reconhecida como ‘a melhor Via de compras de todos os brasileiros, onde, quando e como eles quiserem’ e ir muito além do varejo”.
Lojas Americanas (LAME4) e Americanas (AMER3) tiveram queda acumulada de 77,16% e 59,36%, respectivamente. Um acordo de combinação de negócios entre a empresa e a B2W causou a cisão parcial dos ativos da Lojas Americanas. Apesar disso, a volatilidade dos três papéis da varejista levou a empresa a realizar uma simplificação societária, com a exclusão do ticker LAME3 e LAME4 e incorporação das ações em AMER3, que passará a ser o único ativo da companhia na B3.
Lojas Renner (LREN3) ficou com a menor queda acumulada no período entre os cinco ativos, mas ainda caiu 38,93%. Magazine Luiza, por sua vez, ficou com a baixa mais acentuada nesse intervalo de tempo, derretendo 75% no ano.
O que houve?
Mas o que levou a essa queda tão acentuada nas varejistas? Uma das explicações está na pandemia de Covid-19. “Essa questão da pandemia, que ainda não foi resolvida completamente, a despeito do avanço da vacinação, traz muita incerteza”, disse Alan Ghani, economista-chefe da SaraInvest.
O avanço da vacinação ficou a frente de outros países no mundo. Entretanto, isso não evitou que outras variantes aparecessem no decorrer de 2021, o que causou mais receio a cada nova descoberta.
A primeira foi com a variante Delta, que foi descoberta em outubro de 2020, na Índia, e mostrou ser mais transmissível e mais mortal que a Beta. No final do ano, surgiu a Ômicron e derrubou as bolsas internacionais mais uma vez. Apesar da última variante apresentar mortalidade baixa, a retomada econômica como a esperada levará alguns meses ainda.
Outra razão fica com os indicadores macroeconômicos negativos. O dado mais recente das vendas no varejo mostraram queda acumulada de 5,2% de agosto a outubro. Além disso, a inflação diminui o poder de compra dos consumidores, como destacou Priscila Araujo, sócia e gestora de RV da Macro Capital.
“Esse processo inflacionário tão grande que a gente está vivendo corrói a renda da população”, afirmou Araujo. “Então, o poder de compra da população foi muito consumido com essa alta da inflação, e isso está batendo nos dados de varejo, nos dados de serviço, nos dados de confiança. Foi uma sequência de dados mostrando que a economia está enfraquecendo.”
A gestora também enfatizou que o mercado acreditava em uma inflação temporária, sem muito efeito a médio prazo: “Tinha não só a inflação, mas existia uma expectativa esse ano onde teria um pico de inflação no segundo trimestre e depois arrefeceria para o resto do ano, mas não foi o que aconteceu”.
2022 será melhor?
O setor mais descontado da bolsa em 2021 poderá ter um ano melhor, já que especialistas consideram que as ações das varejistas estão baratas e a retomada econômica está próxima. “Acho que existe uma oportunidade muito grande. Acredito que o investidor precisa ser um pouco mais seletivo”, disse Paola Mello, analista do setor de varejo da GTI.
“A retomada será um pouco mais gradativa, para um horizonte mais de médio a longo prazo. Certamente, existem oportunidades muito boas no setor para o investidor considerar com carinho”, destacou Mello, que viu bons resultados trimestrais nos últimos balanços. “Empresas boas, com balanços robustos, que fizeram toda a lição de casa. Cortaram custos (…) Se as vendas voltarem, virá um crescimento de lucro expressivo nos próximos anos.”
Apesar disso, a competitividade e complexidade do setor de varejo leva a dificuldades para se ter lucro mais expressivos, como afirmou Breno Xavier Motta, analista de ações da VGR Asset.
“Eu, particularmente, entendo que o setor de varejo é um setor muito complexo de se ganhar dinheiro no ‘core business’”. O setor de varejo tem margens muito apertadas. A gente tem quase uma competitividade perfeita na maioria dos produtos oferecidos”, disse.
De acordo com Motta, as companhias se esforçam para ficarem com bom volume de vendas, mas deixam indicadores importantes de lado, que ficam destacados nos resultados trimestrais. “Essas empresas ficam pressionadas, elas tentam ganhar GMV [Volume Bruto de Mercadoria] de uma forma muito acelerada e sacrificam margem por isso.”
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