A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), sediada em Glasgow, na Escócia, se encerrou nesta sexta-feira (12). Essa é a principal cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU), onde líderes globais dos setores públicos e privados debatem soluções para conter o aquecimento global.
Mas o setor privado brasileiro ainda tem um caminho longo a seguir para propor de forma efetiva as questões climáticas em sua estratégia e práticas de negócios, segundo estudo feito pela Luvi One, empresa de consultoria e investimentos em modelos alternativos.
O levantamento mostra que, até o mês de abril, apenas 17% das empresas listadas na B3 tinham metas específicas relacionadas à redução de impactos climáticos. Percentual bem inferior quando comparado com empresas europeias, quando 81% dessas companhias apresentam metas de redução de emissões, 90% têm metas de redução de desmatamento e 61% possuem metas para utilização sustentável de águas.
Para o economista Felipe Gutterres, CEO da Luvi One e coordenador do levantamento, a expectativa é de que após a COP26 o número de empresas brasileiras com metas relacionadas ao clima aumente.
Em relação às metas genéricas quanto à redução dos impactos ambientais, os números continuam abaixo dos dados europeus: 37% das empresas brasileiras listadas na Bolsa apresentam esses objetivos. Além disso, apenas 39% publicam relatório de sustentabilidade ou equivalente; 33% endereçam os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU; e 36% seguem os padrões do GRI, que endereça questões de sustentabilidade em seus relatórios anuais.
O economista disse ainda que as companhias listadas na Bolsa podem sentir um impacto depois da COP26. “Isso direciona toda a maneira de como as instituições vão analisar projetos e empresas, isso acaba afetando, principalmente, empresas listadas que têm essa exposição de investimento externo, bem como financiamento no mercado de capitais”, afirmou.
Ainda de acordo com o relatório, o setor de Papel e Celulose aparece no topo da lista das empresas mais verdes. Das 6 empresas do setor listadas na B3, 4 apresentam metas climáticas específicas, o que equivale a 67%.
Outros setores de destaque foram Telecomunicações, com 60%; Alimentos, com 47%; e Energia Elétrica, com 35%.
De acordo com Gutterres, esses setores se destacam pela forte presença do regulador e dos processos de licenciamento e significativa exposição aos mercados internacionais.
“Interessante notar, que grande parte desses setores ou são exportadores para Europa, tem subsidiárias no continente ou são subsidiárias de empresas europeias, ou mesmo tem investidores europeus relevantes na sua composição acionária”, diz Felipe.
Enquanto os setores de Construção Civil, Máquinas e Equipamentos e Siderurgia e Metalurgia aparecem com o pior desempenho. Segundo o estudo, os números revelam que o Brasil está na contramão dos debates da COP26.
O economista destacou que os setores com alto investimento externo ou grande exposição ao mercado internacional, como exportadores, podem ser mais afetados após a cúpula. Além disso, Felipe diz que os investidores vão incentivar as companhias para que façam projetos relacionados ao clima, já que os mesmos também podem ser impactados.
Felipe Gutterres ainda destaca que há um atraso das empresas brasileiras nas questões de ESG: “Já passou da hora das empresas endereçarem séria e velozmente as questões de ESG, principalmente as questões climáticas, com o risco de não só deixarem de fechar novos negócios, mas perderem negócios que já têm”, ressalta.
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