
Atualizado às 12h11
O Ibovespa voltou a subir no final da manhã desta quarta-feira (20). O índice valorizava 0,64%, aos 111.379 pontos. A tensão do mercado se volta para o risco do valor do Auxílio Brasil superar os R$ 400 e a chance de debandada da equipe de Guedes.
Entre as principais ações do índice, Petrobras opera em alta: ON (PETR3) sobe 1,39% (R$ 29,28) e PN (PETR4) +1,57% (R$ 28,45). Ontem, a estatal afirmou novamente que não está descumprindo contratos, conforme afirma um grupo de distribuidoras, segundo o qual a petroleira vem impondo cotas de fornecimento de gasolina e diesel.
Hoje, a companhia divulga seus dados de produção do terceiro TRI. Já Vale e siderúrgicas operam em terreno negativo, depois de o minério de ferro ter fechado estável em Quingdao (+0,02%, a US$ 124,07 a tonelada). Os papéis da mineradora (VALE3) recuam 1,84% (R$ 77,55), liderando as baixas do Ibovespa, enquanto Usiminas (USIM5) recua 1,28% (R$ 15,39); Gerdau (GGBR4) perde 1,01% (R$ 27,55); Metalúrgica Gerdau (GOAU4) -0,87% (R$ 12,49); CSN (CSNA3) -0,23% (R$ 25,61).
Eletrobras está entre as maiores altas do índice, depois de o Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (CPPI), do Ministério da Economia, ter aprovado a modelagem da privatização da companhia, que deve acontecer por meio de uma oferta primária de ações no 1TRI/22. Eletrobras ON (ELET3) subia 1,51% (R$ 39,74) e Eletrobras PNB (ELET6) +1,15% (R$ 39,71).
O principal índice da bolsa brasileira fechou a última terça-feira (19) em forte queda de 3,28%, cotado a 110.672,76 pontos.
Cenário interno
A notícia que o Auxílio Brasil de R$ 400 iria substituir o Bolsa Família em 2022, ano de eleições, fez a bolsa desabar mais de 3% e o dólar superar os R$ 5,60 ontem. O mercado reagiu negativamente pois a mudança deverá fazer com que o teto de gastos estipulado pelo governo seja ultrapassado – o valor fora do teto é estimado em R$ 30 bilhões pelo Ministério da Economia.
A mudança é vista como derradeira para o teto de gastos, criado em 2016 para servir de âncora para a trajetória dos gastos públicos e que entrou em vigor no ano seguinte.
Cenário externo:
As ações europeias tinham leve alta nesta quarta-feira, com os fortes resultados da Nestlé impulsionando papéis de empresas de alimentos e compensando os decepcionantes lucros de algumas companhias, incluindo o grupo de luxo francês Kering e a empresa de semicondutores holandesa ASML.
À medida que a temporada de lucros do terceiro trimestre se desenrola, investidores estão preocupados com o impacto dos custos mais altos, decorrentes de problemas na cadeia de abastecimento e escassez de mão de obra, especialmente num momento em que os bancos centrais de todo o mundo estão planejando retirar suas medidas de estímulo.
As ações asiáticas avançaram nesta quarta-feira, com o otimismo crescente sobre a economia global e os lucros corporativos, enquanto o iene caiu para uma mínima em quatro anos em relação ao dólar.
O índice MSCI para ações Ásia-Pacífico fora Japão subiu 0,5%, puxado por alta de 1,1% em Hong Kong.
Na China continental, o mercado foi prejudicado por dados mais fracos sobre o setor imobiliário.
“No início deste mês, a estagflação era a palavra da moda em Wall Street. Mas agora o pessimismo excessivo está diminuindo, especialmente após os fortes dados de vendas no varejo dos EUA na sexta-feira”, disse Norihiro Fujito, estrategista-chefe de investimentos da Mitsubishi UFJ Morgan Stanley Securities.
O iuan chinês se manteve firme, negociado a 6,3760 por dólar nas operações “offshore”, perto da máxima em quatro meses e meio de 6,3685 por dólar alcançada na terça-feira.
A moeda era ajudada pela melhora do sentimento depois de o banco central da China dizer que os efeitos colaterais dos problemas da dívida do China Evergrande Group eram controláveis.
Nos Estados Unidos, os índices futuros das bolsas de Nova York tinham leve variação, após altas robustas nas últimas duas sessões, com grandes empresas reportando resultados acima das expectativas.
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Dólar:
O dólar recuava ante o real nesta quarta-feira, mas nem de perto ameaçava anular o forte ganho da véspera, com o mercado de câmbio ainda em modo conservador em meio a temores de ameaça à credibilidade fiscal depois de propostas de despesas fora do teto de gastos.
A moeda foi à mínima do dia –de 5,5568 reais, queda de 0,69%– após a divulgação do resultado da primeira oferta líquida de swap cambial tradicional desta sessão, na qual o Banco Central vendeu 500 milhões de dólares nesses derivativos.
O dólar à vista caía 0,67%, a 5,5583 reais na venda, às 10h13 (de Brasília), e chegou a zerar a queda mais cedo. Na B3, o dólar futuro de primeiro vencimento recuava 0,32%, a 5,5800 reais, após bater 5,6040 reais.
Na terça, a cotação no mercado à vista saltou 1,35%, a 5,5956 reais, máxima de fechamento desde 15 de abril (5,6276 reais). O real, mais uma vez, foi a moeda com pior desempenho do mundo.
Os juros futuros, que dispararam mais de 50 pontos-base na véspera, se estabilizavam, depois de mais cedo voltarem a subir cerca de 10 pontos-base.
O mercado segue em estado de tensão depois da liquidação dos ativos locais na véspera, quando o Ibovespa afundou mais de 3% após notícias de que o governo proporia bancar parte do novo Bolsa Família (Auxílio Brasil) com recursos fora do teto de gastos até o fim de 2022. Analistas disseram que seria a desmoralização do instrumento, visto como âncora fiscal do país.
O noticiário mais recente aponta que o Executivo poderia recorrer a um ajuste na PEC dos precatórios para viabilizar o Auxílio Brasil –a PEC pode ser votada em comissão especial nesta quarta.
Dificultando ainda mais a vida do ministro da Economia, Paulo Guedes, há quem diga que a reforma do Imposto de Renda –aposta inicial do ministro para financiar o Auxílio Brasil– não deve avançar no Senado até pelo menos o fim do governo atual.
A temperatura no mercado e em Brasília, assim, permanece elevada.
“De fato, a despeito das altas da Selic nos últimos meses, o fiscal parece que é o principal responsável pela contínua trajetória altista do dólar frente ao real”, disse Rafael Gabriel Pacheco, da Guide Investimentos.
Com Reuters e BDM