Em um movimento estratégico que pode redefinir o cenário digital de mobilidade e delivery no Brasil, iFood e Uber anunciaram uma integração inédita de serviços. A partir do segundo semestre de 2025, os usuários poderão solicitar corridas pelo app do iFood e fazer pedidos de comida, mercado, farmácia e conveniência pelo app da Uber. A integração começa por cidades selecionadas e será expandida gradualmente para todo o território nacional.
O anúncio foi feito simultaneamente pelas duas empresas, com declarações públicas dos seus principais executivos. Dara Khosrowshahi, CEO da Uber, destacou que “menos da metade dos usuários ativos utilizam os dois serviços com frequência, e a parceria visa eliminar essa fricção, oferecendo tudo com um só toque”. Já Diego Barreto, CEO do iFood, classificou a união como um passo importante para “simplificar a vida das pessoas, impulsionar os pedidos e gerar mais renda para entregadores e motoristas”.
Uber + iFood: dois apps, um ecossistema
Na prática, a iniciativa cria uma das mais robustas infraestruturas digitais de serviços on-demand do Ocidente, consolidando a liderança das duas empresas nos respectivos segmentos.
- O iFood processa cerca de 120 milhões de pedidos por mês, está presente em 1.500 cidades, e opera com 360 mil entregadores e 400 mil estabelecimentos parceiros.
- A Uber acumula mais de 61 bilhões de viagens globalmente desde 2010, e conta com 30 milhões de usuários ativos no Brasil e cerca de 1,4 milhão de motoristas e entregadores.
O projeto não altera serviços logísticos independentes de ambas as empresas, como o Uber Flash, Uber Direct e o sistema de logística próprio do iFood. Programas de fidelidade como Uber One e Clube iFood também permanecem inalterados, embora haja a sinalização de ofertas combinadas no futuro.
Reação estratégica à Meituan e à nova concorrência
O momento da aliança não é acidental. A iniciativa surge em meio à pressão competitiva da chinesa Meituan, gigante global de entregas que anunciou um investimento de R$ 5,6 bilhões no mercado brasileiro. Com forte capacidade logística e know-how tecnológico, a Meituan representa uma ameaça real à hegemonia do iFood no país, e tende a acirrar a disputa por market share.
A análise de mercado reforça essa leitura. “Embora o iFood tenha o porte de um Titanic, a agilidade da empresa mais se assemelha a um jet ski. Essa fusão de funcionalidades com a Uber mostra como o unicórnio brasileiro continua jogando de forma estratégica em um mercado que não permite hesitação”, afirmou Marcelo Marani, especialista em gestão de restaurantes e fundador da escola Donos de Restaurantes.
Ganho de conveniência e visibilidade, mas com alertas

Para o consumidor, a integração representa ganhos de praticidade e centralização: será possível, por exemplo, agendar uma corrida e um pedido de comida no mesmo app. Do ponto de vista dos restaurantes e mercados parceiros, a expectativa é de um aumento de fluxo e visibilidade, especialmente com a possível conversão do tráfego de mobilidade em pedidos de delivery.
Contudo, o entusiasmo esbarra em uma realidade que preocupa os pequenos empreendedores. A concentração de plataformas aumenta a dependência dos estabelecimentos em relação aos aplicativos, e pode reduzir o controle sobre dados, margens de lucro e estratégias comerciais.
“É um erro estratégico operar apenas por conveniência. O dono do restaurante precisa dominar os dados do próprio negócio, equilibrar os canais de venda e buscar estratégias de fidelização próprias, como programas de assinatura ou clubes de vantagem”, alerta Marani.
Veja mais notícias aqui. Acesse o canal de vídeos da BM&C News.