O Federal Reserve divulgou nesta quarta-feira (3) o tradicional Livro Bege, relatório que reúne informações qualitativas sobre a economia americana nos 12 distritos do banco central. A leitura mais recente aponta para um cenário de atividade majoritariamente estável ou em leve retração, com sinais crescentes de desaceleração no consumo e no mercado de trabalho.
Segundo o documento, a maioria dos distritos relatou pouca ou nenhuma mudança na atividade econômica desde o último levantamento, enquanto apenas quatro registraram crescimento modesto. Um ponto recorrente foi a redução nos gastos das famílias, que relataram dificuldade em acompanhar a elevação dos preços diante do crescimento mais fraco dos salários. “A atividade segue majoritariamente estável a decrescente nos distritos, enquanto o mercado de trabalho, ainda com desemprego baixo, apresenta indícios de desaceleração, um fenômeno que tem sido amplificado por ganhos de automação”, avalia José Maria Silva, coordenador de Alocação e Inteligência da Avenue.
Consumo pressionado e impacto das tarifas
As tarifas aplicadas recentemente pelos Estados Unidos se tornaram um fator relevante para a alta de custos em diversos setores. Muitos distritos relataram aumentos de preços diretamente associados aos insumos importados, o que tem pressionado as margens das empresas.
Ao mesmo tempo, os salários mais fracos que a inflação ampliam a vulnerabilidade do consumo, elemento central da economia americana. Essa combinação reforça o quadro de cautela dos empresários, que têm se mostrado mais hesitantes em contratar.
Em onze distritos, os níveis de emprego permaneceram praticamente estáveis, enquanto um relatou declínio modesto. Sete distritos mencionaram que empresas estão reticentes em expandir seus quadros de funcionários, seja pela procura mais fraca, seja pela incerteza em relação ao ambiente econômico. Em dois casos, houve relatos de aumento nas demissões.
Apesar disso, a taxa de desemprego ainda segue baixa em termos históricos, sustentando parte da resiliência da economia.
Inflação ainda preocupa
Dez distritos relataram avanço de preços em ritmo moderado ou modesto, enquanto apenas dois apontaram aceleração mais forte. Quase todos, no entanto, destacaram os efeitos diretos das tarifas na alta dos custos de insumos, com reflexos que podem chegar ao consumidor nos próximos meses.
Esse quadro reforça o dilema do Fed, que precisa calibrar sua política monetária para evitar tanto um desaquecimento abrupto da economia quanto um descontrole inflacionário. “O mercado precifica, com 95% de probabilidade, um corte de 25 pontos-base já na próxima reunião. Essa expectativa foi reforçada pelo discurso de Jerome Powell em Jackson Hole e dificilmente será contrariada, salvo uma surpresa muito fora da curva nos próximos dados de Payroll”, destaca José Maria.