A decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros deve gerar um impacto imediato nas exportações de carne bovina do Brasil — mas, no médio prazo, o efeito pode ser mais danoso para o próprio mercado americano. Essa é a avaliação da consultoria DATAGRO, que analisou o cenário após o anúncio da nova medida, em vigor a partir de 1º de agosto.
Segundo a entidade, os Estados Unidos são o segundo maior destino da carne bovina brasileira, respondendo por 12% dos embarques no primeiro semestre de 2025. Com a nova tarifa, esse fluxo pode ser interrompido ou severamente reduzido, impactando cerca de 4% da produção atual do país.
No entanto, o Brasil possui vantagens estratégicas em termos de redirecionamento das cargas para outros mercados, enquanto os EUA podem enfrentar um desafio mais sério: a escassez de proteína bovina, especialmente no segmento de carne moída.
Carne brasileira é essencial para o consumo americano
Os EUA triplicaram suas importações de carne bovina brasileira entre 2021 e 2025, segundo a DATAGRO. O principal produto adquirido são os chamados beef trimmings, sobras do corte de carne bovina utilizadas na produção de carne moída — base de metade do consumo per capita de carne bovina da população norte-americana.
Esse tipo de carne é fundamental para equilibrar a composição do ground beef local, que depende da mistura desses cortes magros brasileiros com a gordura de bovinos de maior peso nos EUA. Com a nova tarifa, a proteína brasileira passa a custar cerca de 20% a mais do que a carne vendida no atacado americano, praticamente inviabilizando as importações — o que pode provocar um desajuste no abastecimento interno.
“A dependência é maior do lado americano”, destaca a análise da DATAGRO. “Cerca de 5,4% da disponibilidade doméstica total de carne bovina nos EUA depende das importações brasileiras. Em um cenário de oferta global restrita, buscar alternativas equivalentes será difícil.”
Impacto nos mercados e possível redirecionamento
O mercado já começou a precificar o impacto da medida. No dia 10 de julho, os contratos futuros de boi gordo na B3 registraram queda, refletindo a expectativa de redução na demanda externa. A curto prazo, o prejuízo para os exportadores brasileiros é concreto, mas, segundo a consultoria, a reacomodação dos embarques em direção a outros mercados pode mitigar — e até reverter — as perdas ao longo do tempo.
“Mesmo que haja um baque inicial, a ausência de um player com volume e preço competitivo como o Brasil pode abrir novas oportunidades comerciais em países que buscam carne bovina de qualidade a preços acessíveis”, aponta o relatório.
Governo mantém cautela, mas não pedirá prazo
Enquanto o setor se movimenta para entender os desdobramentos da nova política tarifária dos EUA, o governo brasileiro adotou um tom cauteloso. Nesta terça-feira (16/07), o vice-presidente Geraldo Alckmin se reuniu com representantes do agronegócio e afirmou que o Brasil não pedirá prazo para o início da taxação.
“O governo está acompanhando de perto, mas não faremos pedidos formais de postergação”, declarou Alckmin após o encontro. Segundo ele, ainda não há uma definição sobre eventuais medidas de retaliação ou recurso a organismos internacionais.
A carta enviada pelo presidente norte-americano Donald Trump ao governo brasileiro no dia 9 já havia antecipado que qualquer reação por parte do Brasil seria respondida com novas tarifas. O gesto é visto como uma estratégia de pressão dentro do atual contexto eleitoral norte-americano.
Expectativa é por reposicionamento estratégico da carne
Para o setor agropecuário, a sinalização do governo brasileiro é de estabilidade — mas com espaço para movimentações futuras. “É uma questão delicada. Não adianta bater de frente agora, mas também não podemos ficar parados”, avaliou um representante do setor após a reunião com o vice-presidente.
Enquanto isso, o Brasil pode aproveitar o novo cenário para buscar acordos comerciais com países que também se sentirem afetados por mudanças na oferta global de proteína. A expectativa é que, mesmo com perdas pontuais, o país consiga manter sua posição de destaque no mercado internacional de carne bovina.
 
			



 














