O Ibovespa encerrou esta segunda-feira (10) em alta de 0,77%, aos 155.257 pontos, engatando sua 14ª sessão consecutiva de valorização — a mais longa sequência desde 1994. O movimento foi sustentado pelo alívio externo com o fim iminente do shutdown nos Estados Unidos e pela valorização do real, num dia de otimismo generalizado no mercado.
Apesar do clima positivo, analistas reforçam que o rali começa a mostrar sinais de esticamento técnico. Investidores se dividem entre aproveitar o momento e adotar uma postura mais defensiva, diante da possibilidade de realização de lucros e da leitura de que o índice pode precisar de uma pausa natural após tantas altas seguidas.
O que explica o rali e o que pode interrompê-lo?
O avanço recente do Ibovespa tem múltiplas origens. Além do ambiente global mais favorável — com queda nas taxas de juros internacionais e melhora nas expectativas para a economia chinesa —, fatores domésticos também ajudam. As falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a possibilidade de cortes na Selic reacenderam o otimismo interno.
Enquanto isso, os juros futuros caíram em toda a curva e o dólar seguiu recuando, fortalecendo ativos brasileiros. No exterior, o fim do impasse fiscal norte-americano e a retomada das compras chinesas de commodities trouxeram fôlego adicional às bolsas emergentes.
Análise: otimismo pede diversificação e atenção ao timing
Para Everton Dias, sócio da Legado Investimentos, o investidor deve manter o pé no acelerador com moderação. Em entrevista ao programa Closing, da BM&C News, ele destacou que “o mercado está relativamente esticado e uma realização pode vir a qualquer momento — o difícil é acertar o timing”.
Segundo o analista, o cenário segue favorável, mas “a diversificação continua sendo o melhor remédio”. Ele recomenda que investidores realizem parte dos ganhos acumulados, ajustem o tamanho das posições e mantenham caixa para aproveitar eventuais correções. Além disso, Dias observa que o excesso de liquidez global e a tendência de cortes de juros devem continuar sustentando os mercados emergentes, ainda que o ritmo de alta do Ibov possa desacelerar.
Setores e papéis em destaque
Entre as ações mais negociadas, os bancos tiveram desempenho misto: Bradesco (BBDC4) subiu 1,8%, enquanto Itaú (ITUB4) avançou 0,6%. No setor de energia, as ações da nova Axia (ex-Eletrobras) estrearam em alta, com ganhos próximos de 1,5%. No varejo, Lojas Renner e Magalu também se destacaram, impulsionadas pelo otimismo com o consumo doméstico e pela recente aprovação da isenção do IR até R$ 5 mil.
Por outro lado, o pregão teve quedas expressivas. M. Dias Branco (MDIA3) recuou mais de 11%, após divulgar resultados abaixo das expectativas do mercado, com compressão de margens e mix de produtos ainda em ajuste. Já Oi (OIBR3 e OIBR4) despencou após a decretação de falência pela Justiça, levando a B3 a suspender temporariamente suas negociações.
O que esperar dos próximos pregões?
Nos próximos dias, a divulgação da ata do Copom e do IPCA de outubro deve balizar o humor dos investidores. Uma leitura mais branda da inflação pode reforçar a tese de corte da Selic ainda no primeiro trimestre de 2026, enquanto um dado mais pressionado pode limitar o otimismo. Nesse sentido, a recomendação majoritária é de cautela e seletividade.
- Ibovespa: +0,77%, a 155.257 pontos
- Dólar: -0,35%, cotado a R$ 5,31
- Maior alta: Lojas Renner (+3,4%)
- Maior queda: M. Dias Branco (-11,1%)
Com o índice em máxima histórica e o fluxo estrangeiro ainda consistente, o consenso entre gestores é que o cenário segue benigno — mas a complacência pode ser perigosa. Como resumiu Everton Dias: “O céu é de brigadeiro, mas é justamente nesses momentos que o investidor precisa olhar o horizonte com mais cuidado”.