Permanecer por semanas no topo de uma montanha, em um ambiente de “ar raro”, submete o corpo humano em alta altitude a um dos testes de resistência mais extremos da natureza. A baixa pressão atmosférica significa menos oxigênio a cada respiração, um estado conhecido como hipóxia, que desencadeia uma cascata de adaptações e perigos.
Qual o choque inicial? A luta imediata do corpo por oxigênio
Nos primeiros dias em altitude, o corpo entra em modo de emergência. A falta de oxigênio faz o coração disparar e a respiração se acelerar drasticamente (hiperventilação) em uma tentativa desesperada de captar mais moléculas de O2, mesmo em repouso.

Essa luta inicial frequentemente leva ao Mal Agudo da Montanha (MAM), com sintomas como dor de cabeça, náuseas, tontura e fadiga intensa. É o primeiro sinal de que o corpo está lutando para se ajustar a um ambiente para o qual não foi projetado.
Como o corpo se adapta? A incrível máquina da aclimatação
Após a primeira semana, um processo notável chamado aclimatação começa a transformar o corpo. Os rins detectam a baixa oxigenação e liberam um hormônio chamado eritropoietina (EPO), que sinaliza à medula óssea para produzir milhões de novos glóbulos vermelhos.
Essas novas células transportadoras de oxigênio tornam o sangue mais denso e eficiente, permitindo que o corpo funcione com menos oxigênio disponível. É uma adaptação fisiológica tão poderosa que atletas treinam em altitude para ganhar uma vantagem competitiva ao nível do mar.
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Quais são os riscos mortais que se escondem na altitude?
A aclimatação é um processo lento, e se um alpinista subir rápido demais, o corpo pode entrar em colapso. Existem dois perigos mortais principais associados à exposição prolongada à altitude extrema, ambos sendo emergências médicas.
Conforme detalhado em estudos da National Library of Medicine dos EUA, a única cura real para essas condições é uma descida imediata para uma altitude mais baixa, onde há mais oxigênio disponível.
As duas principais emergências médicas em altitude:
Edema Pulmonar de Alta Altitude (HAPE): Ocorre quando os vasos sanguíneos dos pulmões vazam fluido para os sacos de ar, causando uma sensação de afogamento em seco, tosse intensa e extrema falta de ar.
Edema Cerebral de Alta Altitude (HACE): É o vazamento de fluido para o cérebro, causando confusão, perda de coordenação, alucinações e, se não tratado, coma e morte.
Qual o preço a longo prazo para o corpo?
Mesmo com uma aclimatação bem-sucedida, semanas em altitudes extremas cobram um preço alto. O corpo começa a consumir a si mesmo para obter energia, levando a uma perda significativa de massa muscular (catabolismo) e peso. O sistema imunológico fica suprimido, tornando a pessoa mais vulnerável a infecções.
Para aprofundar o entendimento sobre o Mal da Altitude e como preveni-lo, selecionamos o conteúdo do canal FalaLu!, que já conta com mais de 7 mil visualizações. No vídeo a seguir, a especialista Luana Marques explica visualmente o que é o mal da montanha, seus sintomas, fatores de risco e as melhores práticas de aclimatação e tratamento:
O cérebro também sofre. A hipóxia crônica pode levar a um declínio cognitivo temporário, afetando a memória, o raciocínio e a tomada de decisões. O portal do Ministério da Saúde reforça a importância de acompanhamento médico em condições extremas. A tabela abaixo compara o corpo em diferentes ambientes.
| Função Corporal | Nível do Mar (100% Oxigênio Disponível) | Alta Altitude (Ex: 5.500m – 50% Oxigênio) |
| Glóbulos Vermelhos | Nível normal. | Aumentam drasticamente (sangue mais espesso). |
| Frequência Cardíaca | Normal em repouso. | Elevada, mesmo em repouso. |
| Massa Muscular | Estável com dieta adequada. | Perda acelerada (catabolismo). |
| Função Cognitiva | Ótima. | Reduzida (memória e raciocínio afetados). |

