A recente decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de suspender tanto o decreto presidencial que aumentava o IOF quanto o decreto legislativo que o anulava, gerou um alerta no mercado financeiro. A medida, que também marcou a convocação de uma audiência de conciliação entre os Três Poderes, destaca a complexidade da disputa institucional e revela o impacto que essa instabilidade tem no ambiente de negócios. Para setores como o mercado de crédito estruturado, onde a previsibilidade legal é essencial, a insegurança gerada por decisões como essa representa um risco direto.
Impacto da insegurança jurídica no mercado de crédito com IOF
A judicialização do IOF não afeta apenas o sistema fiscal, mas também interfere profundamente na forma como os investidores avaliam o risco nas operações financeiras. Matheus Matos, Head Jurídico da MA7 Negócios, alerta que alterações inesperadas na legislação criam um ambiente de insegurança que mina a confiança dos investidores. Para ele, os efeitos vão muito além de um simples aumento na alíquota do imposto. No mercado de crédito estressado, onde as operações são já por natureza de alto risco, qualquer mudança na tributação pode comprometer a modelagem jurídica e econômica das transações.
“Mudanças inesperadas na legislação, como o aumento do IOF, criam um ambiente de insegurança que afeta diretamente a confiança dos investidores. Para as empresas em recuperação, as mudanças fiscais são mais uma variável de risco a ser considerada”, afirma Matos. Esse tipo de instabilidade normativa pode prejudicar a viabilidade das transações no mercado de crédito reestruturado, afetando diretamente a precificação do risco pelos investidores.
Alterações abruptas no IOF e seus efeitos nas operações de crédito
Mudanças repentinas na tributação podem inviabilizar operações financeiras complexas que demandam semanas ou meses para serem desenhadas. A tributação adicional não compromete apenas a rentabilidade dos investidores, mas também reduz a margem de alívio financeiro para empresas em recuperação. Como resultado, negócios que estavam prontos para seguir adiante são travados, contratos são reavaliados e muitas vezes as empresas perdem o timing necessário para executar seus planos de reestruturação ou captação.
Para Paulo Magalhães, Head de Novos Negócios da MA7 Negócios, a insegurança jurídica afeta diretamente a capacidade de financiamento das empresas em recuperação. “No mercado de crédito estressado, qualquer ruído institucional que afete a lógica de precificação ou a segurança jurídica impacta diretamente a capacidade de financiamento”, aponta Magalhães. Ele explica que o investidor nesse segmento busca previsibilidade regulatória para modelar estruturas complexas com retorno escalonado e riscos elevados por natureza. Quando a base normativa sofre alterações inesperadas, como no caso do aumento do IOF, os investidores se retraem, o custo do capital sobe e a atratividade dos ativos despenca.
Audiência de conciliação: expectativas e riscos para o mercado
A audiência de conciliação marcada para o dia 15 de julho pode ser um ponto de inflexão, seja pela busca de consenso entre os Três Poderes, seja pela sinalização de que medidas fiscais com efeitos extrafiscais, como o IOF, precisam de maior coordenação institucional. Para os especialistas, a expectativa é que o STF reforce o princípio da previsibilidade jurídica, evitando precedentes que possam prejudicar o ambiente de financiamento para empresas em fase de reestruturação.
Mais do que uma simples disputa entre os poderes, a judicialização do IOF se revela um alerta sobre os riscos sistêmicos de decisões fiscais tomadas sem a devida ancoragem institucional. As incertezas geradas por esse tipo de instabilidade podem comprometer a recuperação de empresas em dificuldades e afetar a viabilidade de novos investimentos.