O IPCA de outubro subiu apenas 0,09%, o menor resultado para o mês desde 1998, surpreendendo o mercado e reforçando a percepção de que o ciclo de desinflação segue consolidado. O resultado, abaixo das projeções, foi puxado principalmente pela queda nas contas de energia elétrica e nos preços de alimentos básicos, como arroz e leite, oferecendo um breve alívio ao custo de vida das famílias — sobretudo as de renda mais baixa. No acumulado em 12 meses, o índice ainda marca 4,68%, ligeiramente acima do teto da meta de 4,5%.
Para analistas, o dado reforça o compromisso do Banco Central com a convergência da inflação, mas reacende a pressão para que o Copom inicie o ciclo de cortes de juros já no início de 2025. Lá fora, os juros começaram a cair nos Estados Unidos, o que tende a favorecer os mercados emergentes e pode abrir espaço para o Brasil antecipar o afrouxamento monetário.
“Inflação sob controle, mas espaço para cautela”
“A inflação de outubro veio mais baixa do que o esperado, puxada principalmente pela queda na conta de luz e nos preços de alimentos básicos. O cenário é positivo, mas ainda exige prudência. Não há expectativa de corte em dezembro, mas existe a possibilidade de antecipar o início dos cortes em janeiro, dependendo dos novos dados econômicos”, afirmou Volnei Eyng, CEO da Multiplike. Segundo ele, o acordo comercial entre China e Estados Unidos ajudou a reduzir pressões inflacionárias globais e a estabilizar cadeias de suprimentos — um fator positivo também para o Brasil.
Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, o resultado trouxe alívio imediato aos mercados: “Para o mercado, o impacto é positivo, já que o alívio inflacionário melhora o humor dos investidores e favorece ativos domésticos, principalmente os de renda variável ligados à demanda interna”.
Investimento e crédito ganham fôlego
O ambiente de inflação controlada também reforça a confiança de empresas e investidores. “A desaceleração do IPCA mostra uma economia que resiste bem à pressão inflacionária. A queda da energia elétrica alivia custos operacionais e dá fôlego à atividade empresarial, especialmente em setores intensivos em energia”, afirmou Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X.
Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX, destacou que o recuo da inflação favorece o mercado de crédito corporativo: “O cenário reduz a volatilidade e melhora as condições de financiamento para empresas com perfil de expansão. Para o investidor, é hora de manter visão estratégica: o crédito estruturado segue como ponte segura entre rentabilidade e economia real”.
Estabilidade amplia previsibilidade e confiança
“O IPCA de outubro, de apenas 0,09%, confirma que o Brasil vive um momento de estabilidade de preços após um longo ciclo de aperto monetário. Isso cria espaço para as empresas planejarem com mais previsibilidade e reforça o poder de compra da população”, avaliou João Kepler, CEO da Equity Group. Para ele, o ambiente de inflação controlada pode estimular a retomada de investimentos em startups e inovação, com foco em eficiência e sustentabilidade.
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, também vê o dado como um marco: “A inflação de 0,09%, a menor para outubro desde 1998, reforça a confiança no ambiente econômico brasileiro e dá previsibilidade a setores estratégicos, como o imobiliário. O país amadurece em política monetária e se destaca como um porto de estabilidade em meio ao cenário global incerto”.
Renda fixa segue atrativa, mas investidores já olham adiante
“Esse ambiente é favorável à renda fixa, que se beneficia da previsibilidade e dos juros reais elevados. A redução da energia elétrica melhora margens e preserva a qualidade dos ativos de crédito”, explicou Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital. Ele alerta, porém, que “a política monetária dos EUA e o ritmo da China ainda podem gerar volatilidade no fluxo de capitais”.
Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, complementa: “O IPCA em 0,09% confirma um processo de desinflação consistente. A estabilidade reduz a volatilidade de preços e melhora a confiança dos investidores que buscam retornos reais com segurança. É o momento de ampliar pontes entre capital e empresas, com foco em governança e qualidade das garantias”.
Visão de longo prazo e educação financeira
“O IPCA em 0,09% mostra que o Brasil entrou em um novo estágio de previsibilidade econômica. A inflação sob controle reduz pressões sobre o consumo e o crédito, e reforça a atratividade do país para o capital de risco”, disse Antonio Patrus, diretor da Bossa Invest. Já Fábio Murad, CEO da Spacemoney Investimentos, afirmou que “a combinação entre juros altos e inflação controlada amplia o retorno real e favorece quem mantém disciplina e visão de longo prazo. O desafio segue sendo a assimetria dos ciclos monetários globais, que exige gestão técnica e educação financeira para navegar entre economias distintas”.