Apesar de o Boletim Focus apontar sucessivas reduções nas projeções de inflação para 2025, o sócio-fundador da 3R, Tomas Awad, vê o cenário com mais cautela. Em entrevista à BM&C News, ele afirmou que o país ainda convive com uma inflação resiliente e acima da meta, destacando que o otimismo com o arrefecimento de preços pode ser precipitado.
“Olhando os dados sem alimentos e combustíveis, a inflação segue perto de 6%. A curva está para cima. Então, não sei se o pior já passou”, afirmou Awad, citando uma análise recente do economista Alex Schwartsman. Para ele, a atividade econômica pode até mostrar sinais de desaceleração, mas fatores como o estímulo fiscal elevado e a escassez de mão de obra formal mantêm a pressão inflacionária elevada.
Inflação no radar: juros devem continuar elevados
Com a inflação ainda distante da meta do Banco Central, o cenário de juros altos tende a se manter em 2025 — e talvez além. “Não me parece óbvio que o BC terá espaço para reduzir juros, a não ser que a gente entre numa desaceleração muito forte, talvez até uma recessão. O que também não é bom”, pontua.
Segundo Awad, o atual ambiente macroeconômico se assemelha ao de 2024, quando o mercado foi surpreendido por uma inflação mais persistente do que o previsto. “Acho que vamos nos surpreender de novo com uma inflação resistente. Os juros vão ter que continuar altos.”
Custo de capital em evidência
Na visão do sócio da 3R, esse contexto afeta diretamente empresas e pessoas físicas. “Quem tem uma estrutura de capital errada vai sofrer com esse juro alto. Já quem está bem posicionado pode até ganhar mercado”, avaliou. A fala reforça o alerta para que empresas revejam seu endividamento e estrutura financeira diante de um possível cenário prolongado de crédito caro.
Enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sinaliza acreditar em uma inflação menor do que o previsto pelo Focus, Awad recomenda cautela: “É um cenário em que não dá para descuidar. Tem muitos vetores inflacionários ainda presentes”.
