O Ibovespa encerrou o pregão desta segunda-feira, 14 de julho de 2025, em queda de 0,65%, aos 135.299 pontos, pressionado por um ambiente de forte aversão ao risco tanto no cenário externo quanto no doméstico. Entre os principais vetores de instabilidade estão as tensões provocadas pelas novas tarifas comerciais anunciadas por Donald Trump, a crescente preocupação fiscal no Brasil, e os desdobramentos políticos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e o governo federal.
Segundo Alison Correia, analista de investimentos e cofundador da Dom Investimentos, o dia refletiu um movimento claro de realização de lucros e ajuste de expectativas em meio à piora nos fundamentos políticos e econômicos. “O Ibovespa teve mais um dia negativo apoiado pelas incertezas com as taxações propostas por Trump e pelas preocupações com o cenário fiscal interno. A semana tende a ser de alta sensibilidade política e volatilidade nos preços dos ativos”, afirmou.
Fatores que pesaram sobre o mercado
A expectativa em torno da postura da Procuradoria-Geral da República no processo envolvendo Jair Bolsonaro, que pode ser encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, trouxe tensão adicional aos mercados. Além disso, o encontro marcado para esta terça-feira (15) entre governo e Congresso sobre a possível alteração no IOF levanta dúvidas sobre o equilíbrio fiscal e o espaço para manobras econômicas.
Externamente, os investidores acompanham com cautela os desdobramentos das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Apesar de ainda não haver reflexos inflacionários concretos nos dados, a medida é vista como um fator potencial de pressão futura sobre a inflação brasileira e sobre a condução da política monetária.
“O petróleo caiu lá fora, e isso puxou para baixo as ações da Petrobras e de empresas ligadas ao setor. Vale também recuou, pressionando o índice. Já a queda dos juros futuros beneficiou ações de consumo, construção civil e varejo, como Pão de Açúcar, Natura, MRV e Petz, que apresentaram valorização”, destacou Correia.
Perspectiva para a taxa de juros
O analista também chama atenção para o risco de que a taxa Selic, hoje em torno de 15% ao ano, permaneça em patamar elevado por mais tempo do que o esperado, caso as tarifas norte-americanas sejam mantidas e contaminem a inflação brasileira. “Se o efeito inflacionário se concretizar, é possível que só vejamos uma redução mais significativa da taxa de juros em março ou abril de 2026, o que seria bastante negativo para a atividade econômica”, alerta.
Implicações políticas e eleitorais
Correia aponta ainda que a tensão geopolítica proporcionada pelas tarifas pode representar uma oportunidade política para o governo Lula, cuja popularidade atravessa um momento delicado. A possibilidade de uma resposta firme às medidas norte-americanas pode reacender o discurso nacionalista e criar espaço para uma tentativa de recuperação de imagem pública.
“O governo vinha num momento ruim de aprovação. Esse episódio acabou oferecendo ao Planalto uma oportunidade de levantar bandeiras de patriotismo e defesa da economia nacional. Pode ser um ponto de virada na narrativa política”, avalia.
Panorama técnico e fluxo de capital
Apesar da recente correção do Ibovespa — que caiu quase 4% nos últimos dias —, o dólar apresentou uma alta modesta e voltou ao patamar de R$ 5,55. Para Correia, isso sinaliza que o movimento ainda está dentro de uma lógica de realocação global de portfólios, observada desde o primeiro semestre.
“Estamos vendo um fluxo de entrada importante em países emergentes como Brasil, Colômbia, Chile e Austrália. É uma rotação de carteiras em busca de diversificação. No curto prazo, esse movimento pode continuar sustentando o mercado, mas os riscos políticos e fiscais podem limitar os ganhos”, conclui.