O Ibovespa encerrou a semana sob pressão, refletindo a piora nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos após o anúncio de tarifas de 50% por parte do governo Trump. Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, esse foi o principal tema de curto prazo que influenciou o humor do mercado local. “Foi uma semana delicada para o Brasil, marcada pelo fim dos 90 dias de prazo e sem qualquer acordo de última hora. Só o anúncio das tarifas”, afirmou.
No cenário doméstico, Cruz também destacou a relevância do texto final apresentado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, sobre a segunda fase da reforma tributária. A proposta manteve o imposto de 10% apenas para quem ganha acima de R$ 1,2 milhão por ano, e ampliou a faixa de menor alíquota, de R$ 7 mil para R$ 7.350, tornando-a mais flexível. Para o estrategista, esse avanço fiscal “foi um dos temas mais relevantes da semana”.
Do lado internacional, o suporte da China ao setor de construção civil impulsionou o minério de ferro nos últimos dias, favorecendo ações como Vale (VALE3). Ao mesmo tempo, uma reportagem da The Economist alertou sobre o elevado endividamento dos governos locais chineses, o que “pode se tornar um problema de solvência no médio e longo prazo para economias como a brasileira, que dependem das exportações para o país”, analisou.
Na Europa, a virada histórica no fornecimento de energia, agora liderado por fontes solares em vez de gás e nuclear, também foi um sinal importante de transição energética e redução de dependência da Rússia, embora com impacto mais estrutural do que imediato.
Por fim, Gustavo chamou atenção para um fator político interno: a reação da população brasileira à crise com os EUA. Segundo ele, o presidente Lula conseguiu capitalizar politicamente a crise, ganhando um “impulso de popularidade” após episódios recentes que o haviam desgastado, como as crises no INSS e no sistema do PIX. “Dessa vez, o brasileiro apoiou mais o Lula e criticou a oposição que endossou o Trump”, comentou.
O que observar na próxima semana?
Com o cenário fiscal em foco e a tramitação da reforma tributária em andamento, investidores devem seguir atentos às movimentações no Congresso. No exterior, a expectativa se volta para novos dados da economia chinesa e possíveis repercussões das tarifas americanas em cadeias produtivas e nas exportações brasileiras.