O Ibovespa encerrou o pregão desta quinta-feira (24) em queda de 1,15%, aos 133.807 pontos, refletindo um movimento de realização de lucros, especialmente no setor bancário. Segundo análise de Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, a forte correção do IFNC — índice que representa o setor financeiro — foi determinante para o desempenho negativo do principal índice da Bolsa brasileira.
“O setor bancário foi o responsável por levar o Ibovespa às máximas recentes, sustentado por resultados trimestrais sólidos. Agora, vemos um movimento natural de realização, principalmente diante do aumento do risco político-comercial com os Estados Unidos”, explica Silva.
Tensões políticas elevam risco para investidores
A expectativa de uma tarifa de 50% sobre exportações brasileiras para os EUA, medida anunciada pelo ex-presidente Donald Trump com provável implementação em agosto, tem gerado forte aversão ao risco. Para o especialista da GT Capital, trata-se de uma questão mais política do que econômica, mas com impactos diretos sobre o apetite dos investidores estrangeiros e locais.
“A taxação eleva consideravelmente o risco de manter posições na Bolsa. Muitos investidores que estavam posicionados há mais tempo estão aproveitando para realizar lucros e fazer caixa, à espera de possíveis correções mais profundas diante do cenário de incerteza”, avalia Anderson.
Dólar e juros futuros: movimentos estruturais
No câmbio, o dólar comercial fechou o dia praticamente estável, cotado a R$ 5,52, acompanhando um movimento global de enfraquecimento da moeda norte-americana frente a outras divisas. De acordo com a GT Capital, esse comportamento do dólar não está atrelado a notícias específicas, mas sim a uma tendência estrutural em curso nas últimas semanas.
O mesmo se aplica aos juros futuros (DI), que apresentaram leve alta nesta quinta-feira. A movimentação está relacionada à atuação do Banco Central no controle da inflação. “As curvas futuras estão em processo de correção. A trajetória não é linear, nem para cima, nem para baixo”, acrescenta Silva.
Ações: destaques positivos e negativos
Entre os principais destaques positivos do dia estiveram:
- AZUL4: impulsionada por dados operacionais positivos, sinalizando recuperação no curto prazo;
- VAMO3: teve bom desempenho, mesmo sem um driver específico;
- BRKM5: continuou a subir diante das especulações sobre a possível venda do controle da Braskem.
Na ponta negativa, as ações da Embraer (EMBR3) lideraram as perdas, pressionadas pela tensão envolvendo a possível taxação americana. WEGE3 caiu após a divulgação de resultados abaixo do esperado, enquanto Lojas Renner (LREN3) sofreu movimento de correção após forte valorização no acumulado do ano.
Cenário segue desafiador
Com a aproximação da nova medida tarifária dos EUA e o cenário fiscal ainda frágil no Brasil, o mercado financeiro opera com maior cautela. A queda de hoje no Ibovespa, associada à rotação de posições e menor volume negociado (R$ 15,7 bilhões), indica uma postura mais defensiva por parte dos investidores, à espera de definições tanto no campo político quanto econômico.