O Ibovespa engatou sua 15ª alta consecutiva nesta terça-feira (11), subindo 1,60% e encerrando o pregão aos 157.748 pontos, em meio ao alívio externo após o fim do shutdown nos Estados Unidos e à expectativa de corte de juros pelo Federal Reserve. O volume financeiro foi de cerca de R$ 35,5 bilhões, consolidando o maior ciclo positivo desde 1994.
O desempenho local refletiu o clima de otimismo internacional, com bolsas americanas e europeias em alta, petróleo avançando e dólar em queda global. No câmbio, o dólar comercial recuou 0,64%, a R$ 5,27, enquanto investidores reforçaram posições em ações domésticas, de olho em um possível início de ciclo de afrouxamento monetário também no Brasil nas próximas reuniões do Copom.
Quais fatores impulsionaram o rali?
Além do ambiente global mais benigno, o mercado reagiu à continuidade de dados locais favoráveis de inflação. O IPCA de outubro registrou alta de apenas 0,09%, a menor para o mês desde 1998, reforçando apostas de desaceleração da política monetária em 2025.
Enquanto isso, o avanço de setores pró-ciclo e o aumento do fluxo estrangeiro mantiveram o Ibovespa em tendência de alta. Papéis de bancos e commodities lideraram os ganhos, enquanto Natura despencou após resultados abaixo do esperado.
- Braskem (BRKM5) disparou 18% com rumores de negociação de venda de participação.
- Movida (MOVI3) subiu quase 16% após lucro melhor que o previsto.
- Natura (NATU3) recuou mais de 15% após reportar queda de 3,7% na receita líquida e margens pressionadas.
O que disse José Maria, da Avenue
Convidado do programa Closing, da BMC News, o estrategista José Maria, da Avenue, analisou o cenário global e os impactos do fim do shutdown americano sobre o sentimento de risco nos mercados.
Segundo ele, a resolução parcial no Congresso dos EUA traz alívio imediato, mas ainda é uma solução temporária: “O acordo chuta o problema para o fim do ano; provavelmente não será o último shutdown até 2026.” O economista destacou que a reabertura do governo “restaura a normalidade de dados e reduz a tensão econômica”, pois o impasse havia começado a causar layoffs e atrasos em pagamentos de servidores públicos.
José Maria também chamou atenção para a liquidez global elevada e a ampla valorização das bolsas no mundo: “O dólar está caindo globalmente; não é o real que está se valorizando isoladamente. É um cenário de muita liquidez e otimismo generalizado.” Ele ressaltou que a alta recente das ações não é mérito de um país específico, mas resultado de um ambiente internacional favorável, com juros longos estáveis e recomposição de fluxos após semanas de incerteza política.
Sobre o Federal Reserve, o analista avaliou que o banco central americano tende a manter uma postura cautelosa, priorizando a estabilidade do mercado de trabalho em relação à inflação. “O Fed raramente vai contra o mercado quando a probabilidade de corte supera 50%. Se o mercado precifica -0,25 pp, é provável que isso ocorra”, explicou, acrescentando que a política monetária deve continuar “data dependent” até o início de 2026.
E agora, o que esperar?
Nesse contexto, o mercado brasileiro surfa um ambiente externo mais favorável, mas permanece sensível a ajustes de humor global. Qualquer sinal de desaceleração mais forte nos EUA ou mudança de discurso do Fed pode gerar correções após o rali técnico das últimas semanas.
Mesmo assim, a sequência positiva reflete confiança crescente em fundamentos locais mais equilibrados, inflação sob controle e perspectiva de juros menores no médio prazo. O desafio, porém, será sustentar o fluxo comprador num cenário em que parte dos gatilhos já está precificada.