O mercado financeiro brasileiro viveu um dia de fortes emoções nesta quinta-feira, 3 de julho, com o Ibovespa renovando seu recorde histórico e superando a marca de 141 mil pontos. O desempenho foi impulsionado por uma combinação de fatores externos favoráveis, como a continuidade da alta nos mercados dos Estados Unidos, que chegaram a novos patamares, e um renovado apetite por risco entre os investidores. Porém, segundo Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, o volume de negociação abaixo da média histórica pode sugerir certa cautela por parte dos investidores.
De acordo com Silva, o recente avanço do Ibovespa reflete um cenário global positivo, especialmente com a resiliência do mercado norte-americano, que busca se posicionar para uma futura redução nas taxas de juros. Apesar disso, o volume reduzido de negociações indica que nem todos estão dispostos a aumentar sua exposição à renda variável, o que pode estar relacionado à atratividade das altas taxas da renda fixa. Em um contexto de juros elevados no Brasil, muitos investidores preferem aproveitar a rentabilidade das opções de renda fixa enquanto aguardam uma maior definição do cenário econômico.
Além disso, o dólar segue em queda, refletindo a manutenção dos juros altos no Brasil e o aumento do diferencial de juros entre o país e os Estados Unidos. Esse movimento tem ajudado a fortalecer o real, especialmente com a retomada das compras por parte dos investidores estrangeiros, que buscam se antecipar a um possível cenário de valorização da moeda brasileira.
O analista também aponta que, embora o mercado esteja otimista com os dados positivos do payroll nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) pode adiar ainda mais a redução da taxa de juros americana. Isso implica que a política monetária ainda será restritiva por algum tempo, o que pode gerar volatilidade nos mercados financeiros.
Comparação com o cenário de 2016
Silva faz uma comparação com o cenário de meados de 2016, quando a taxa Selic estava elevada acima de 13,75% e a situação política e econômica do Brasil era delicada, com o impeachment da presidente Dilma Rousseff em curso. Naquela época, o mercado começou a precificar uma recuperação econômica, o que desencadeou um ciclo de alta que durou até a pandemia de 2020. Ele acredita que o cenário atual, com altas taxas de juros e incertezas políticas, pode estar dando início a um movimento semelhante, caso o Brasil consiga superar as dificuldades fiscais e políticas nos próximos anos.
A expectativa de um governo de centro-direita em 2027 também tem influenciado as projeções do mercado, que começa a precificar um possível cenário de mudança no poder. Se essa previsão se confirmar, Silva acredita que o momento para se posicionar na renda variável pode ser agora, aproveitando as oportunidades de valorização de setores estratégicos da economia.
Movimento de ações
No pregão de hoje, algumas ações se destacaram entre as maiores altas. A EMBR3 liderou os ganhos após a divulgação de uma prévia operacional positiva, enquanto a CSNA3 também atraiu fluxo comprador após uma forte queda no preço do minério de ferro. Por outro lado, ações como ABEV3 apresentaram leve correção, sem um driver específico, enquanto BRFS3 e MRVE3 registraram quedas após momentos de alta intensa.
A hora de tomar riscos?
Silva acredita que o momento atual apresenta boas oportunidades para exposição em ações, principalmente em setores que podem se beneficiar da rotação de investimentos. No entanto, ele alerta que é fundamental manter a cautela, especialmente devido à possibilidade de um ciclo prolongado de juros elevados. O mercado segue atento aos próximos passos do governo brasileiro e à evolução da política monetária nos Estados Unidos, fatores que podem afetar diretamente as decisões de investimento no futuro próximo.
O mercado brasileiro parece estar em um momento de grande potencial, mas também com riscos elevados, exigindo uma estratégia cuidadosa e bem fundamentada por parte dos investidores.