A atividade econômica brasileira registrou, em maio, seu pior desempenho do ano até agora. Após quatro meses consecutivos de crescimento, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apresentou queda de 0,7% na comparação com abril, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (14). O resultado veio bem abaixo da expectativa do mercado, que projetava estabilidade para o período, de acordo com pesquisa da Reuters.
Considerado uma prévia informal do Produto Interno Bruto (PIB), o IBC-Br revelou que a economia brasileira começou a sentir os efeitos da política monetária mais restritiva, marcada por juros elevados, e da forte contração no setor agropecuário.
Queda liderada pela agropecuária, segundo IBC-Br
Segundo os dados do Banco Central, a principal contribuição negativa para o resultado veio da agropecuária, que teve recuo de 4,2% no mês. Sem esse setor, a contração da atividade teria sido menos intensa: queda de 0,3%. Outros setores também contribuíram negativamente. A indústria registrou retração de 0,5%, e o setor de serviços ficou estagnado, sem avanço na margem.
Apesar da queda mensal, o IBC-Br ainda mostra crescimento de 3,2% na comparação com maio de 2024, e avanço de 4,0% no acumulado de 12 meses, em dados não dessazonalizados.
Indicadores divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) corroboram o quadro de desaceleração. Em maio:
- O volume de serviços cresceu apenas 0,1%, abaixo do esperado;
- A produção industrial caiu 0,5%;
- As vendas no comércio varejista recuaram 0,2%.
Esses números reforçam a leitura de que a economia está em um momento de perda de fôlego, ainda que os dados anuais permaneçam positivos.
Além do IBC-Br: juros altos e sinal de pausa no aperto monetário
O fraco desempenho da atividade ocorre em um momento em que o Banco Central mantém a taxa Selic em patamar elevado, com foco no combate à inflação. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em junho, a autoridade monetária aumentou a Selic para 15,00% ao ano, com alta de 0,25 ponto percentual.
Na ocasião, o BC indicou que o ciclo de alta de juros deve ser encerrado e que a taxa básica deve permanecer inalterada por um período prolongado. A mensagem reforça o compromisso com o controle inflacionário, mas também revela preocupação com os efeitos defasados da política monetária sobre o crescimento.
Sinal de alerta para os próximos meses
O recuo da atividade em maio liga o alerta sobre o ritmo de crescimento da economia brasileira no segundo semestre. Com juros altos, agropecuária em retração e indústria em queda, o desafio será manter o PIB em trajetória de expansão sem comprometer o combate à inflação.
Embora a expectativa de crescimento para o ano siga positiva, com projeções em torno de 2,2%, os próximos meses devem ser marcados por dados mais fracos e pela necessidade de equilíbrio entre estímulo à economia e responsabilidade fiscal.
IBC-Br: “perda de ritmo clara da economia”
Segundo Leonardo Costa, economista do ASA, o resultado de maio reforça o sinal de desaceleração da economia no segundo trimestre. “O IBC-Br teve variação de -0,7% em maio, após alta de 0,1% no mês anterior. A média móvel trimestral desacelerou para 1,3%, e o crescimento no segundo trimestre até maio é de apenas 0,3%, bem abaixo do 1,4% observado no primeiro trimestre. As aberturas mostram contração expressiva na agropecuária (-4,2%) e na indústria (-0,5%), com retração de 0,3% mesmo excluindo o agro”, analisou. Para o economista, os dados já disponíveis apontam para uma desaceleração gradual da atividade doméstica.
Para Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, a queda foi um choque negativo para o mercado. “Mesmo com efeitos pontuais, como feriados e menos dias úteis, o recuo mais forte do que o esperado indica uma perda de ritmo clara da economia. A indústria e os serviços já vinham sinalizando fraqueza, e os juros altos continuam restringindo crédito e consumo. Se essa tendência se mantiver, pode aumentar a pressão para que o Banco Central reavalie sua estratégia e flexibilize os juros ainda este ano, mesmo diante de uma inflação ainda resistente em alguns núcleos”, afirmou.
O impacto também é sentido na visão empresarial. Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, acredita que o dado de maio é um alerta claro de mudança de ciclo. “A queda de 0,70% mostra que a economia começou a perder fôlego. O agro recuou, a indústria encolheu e até os serviços estagnaram. Juros altos por muito tempo estão freando investimentos e apertando o caixa das empresas. Para quem está no dia a dia dos negócios, o recado é claro: é hora de organizar a casa, proteger liquidez e usar o crédito com mais estratégia”, aconselhou.