Em meio à crescente tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos, o setor agropecuário brasileiro vê com preocupação a decisão do governo norte-americano de aplicar uma tarifa adicional de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados ao país, a partir de 1º de agosto. A medida, anunciada oficialmente pelo presidente Donald Trump em carta ao governo brasileiro no último dia 9, teve repercussão imediata no mercado de carnes — especialmente na cadeia da bovinocultura.
Na última terça-feira (15), o vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, reuniu-se com representantes do agronegócio para discutir os desdobramentos da nova política tarifária. Ao sair do encontro, Alckmin declarou que o governo federal não pedirá prazo aos EUA para o início da taxação, indicando uma postura de não confrontação direta, mas também de não submissão.
“A decisão é unilateral, e a reação do Brasil será analisada com base no interesse nacional”, disse o vice-presidente. Ele reiterou que o Itamaraty e o Ministério da Agricultura acompanham de perto os impactos e possibilidades de redirecionamento comercial.
Impacto real, mas limitado, segundo especialistas
De acordo com análise da consultoria DATAGRO, a imposição da tarifa pode, de fato, causar um impacto inicial negativo nas exportações brasileiras de carne bovina, já que os Estados Unidos são atualmente o segundo principal destino da proteína nacional, respondendo por 12% do volume recorde embarcado no primeiro semestre de 2025.
Ainda assim, os analistas afirmam que o Brasil possui significativa capacidade de redirecionar esses embarques para outros mercados. “O choque negativo sobre a produção brasileira é estimado em cerca de 4% nos níveis atuais”, aponta a DATAGRO, lembrando que o mercado já começou a precificar esse cenário, como mostra a queda nos contratos futuros de boi gordo na B3 no último dia 10.
Em contrapartida, o impacto nos EUA pode ser ainda mais sensível. Isso porque os americanos aumentaram significativamente a importação de carne bovina brasileira nos últimos anos — essa participação triplicou entre 2021 e 2025 — e boa parte desse volume é composta pelos chamados beef trimmings, resíduos de cortes usados na produção de carne moída, base de consumo de boa parte da população.
Dependência dos EUA e riscos à oferta interna
Segundo a DATAGRO, cerca de 5,4% da oferta total de carne bovina nos EUA depende da proteína brasileira. Como não há hoje um fornecedor global que consiga competir com o Brasil em volume e preço, os americanos devem sentir mais diretamente os efeitos da tarifa. A carne brasileira, por sua vez, passaria a custar até 20% mais do que o produto equivalente no mercado atacadista norte-americano, tornando as exportações economicamente inviáveis no curto prazo.
Por outro lado, essa mudança pode abrir portas para o Brasil em outros mercados que buscam proteína bovina, especialmente em um momento de oferta global apertada. “A médio e longo prazo, a realocação desses volumes pode ser benéfica para os exportadores brasileiros, mesmo que a reacomodação inicial seja desafiadora”, avalia a consultoria.
Governo em compasso de espera
Apesar de evitar o confronto direto com Washington, o governo brasileiro ainda avalia uma possível resposta à medida de Trump. No entanto, o presidente norte-americano já antecipou em sua carta que qualquer retaliação poderá ser respondida com tarifas adicionais. A tensão, portanto, exige cautela diplomática e mobilização estratégica por parte do setor produtivo.
Enquanto isso, o agronegócio espera uma atuação mais firme do governo, ainda que discreta, para evitar que os prejuízos comerciais se acumulem. “Não é hora de criar crise, mas também não é hora de ficar parado”, disse um representante do setor após a reunião com Alckmin.
 
			



 














