Enquanto o Federal Reserve sinaliza o início do ciclo de cortes de juros ainda em setembro, o Banco Daycoval avalia que o Banco Central brasileiro deve manter a Selic em 15% até o fim de 2025. A expectativa é que os cortes por aqui só comecem de forma gradual em janeiro de 2026. As projeções fazem parte da revisão mensal de cenário divulgada pelo banco.
“há um contraste entre a política monetária norte-americana e a brasileira. Nos Estados Unidos, o Fed pode cortar os juros em 0,25 ponto percentual já em setembro, enquanto no Brasil a cautela fiscal e inflacionária adia qualquer movimento para 2026”.
O relatório manteve a expectativa de que a taxa de juros dos EUA (Fed funds) termine 2025 no intervalo de 3,75% a 4,00%. O relatório assinado por Rafael Cardoso, economista-chefe do banco, destaca que a decisão está ancorada em sinais de fraqueza no mercado de trabalho americano e na queda dos preços dos novos contratos de aluguéis, que são antecedentes relevantes para o índice de preços ao consumidor (CPI). “Apesar desse alívio, a deterioração recente das expectativas de inflação exige cautela, de modo que o Fed deve adotar um ritmo de ajuste mais gradual”, avalia Cardoso.
PIB brasileiro revisado para baixo
No cenário doméstico, o Daycoval reduziu a projeção de crescimento do PIB para 2025 de 2,2% para 2,1%, refletindo o desempenho mais fraco da indústria e dos investimentos no segundo trimestre. Já a taxa de desemprego projetada para o fim do ano foi ajustada de 6,4% para 6,0%.
Segundo Cardoso, “a desaceleração da demanda doméstica ficou evidente com as quedas de 2,2% nos investimentos e de 2,9% nas importações, enquanto o setor de serviços e a agropecuária seguem sustentando o PIB”.
Inflação e política monetária
O relatório também revisou a projeção de inflação de 2025 de 5,0% para 4,9%, diante de surpresas baixistas em bens industriais e alimentação. Entretanto, preços administrados, como energia elétrica, e serviços, como passagens aéreas, trouxeram pressões adicionais. Para 2026, a estimativa foi mantida em 4,0%.
Cardoso afirmou que “a melhora das expectativas de inflação abre espaço para cortes na Selic, mas o quadro fiscal adverso e o calendário eleitoral nos levam a projetar início apenas em janeiro de 2026, com reduções graduais de 0,25 ponto percentual”.
Risco fiscal e PLOA 2026
O relatório também destacou preocupações com o PLOA 2026, que apresentou receitas consideradas superestimadas. O Daycoval projeta déficit de -0,7% do PIB, fora da meta estipulada pelo governo. Para 2025, o resultado primário deve ficar em -0,23%, próximo ao limite inferior da meta.
“A qualidade do ajuste é frágil, baseada em receitas extraordinárias e não em medidas estruturais”, alertou Cardoso. Ele acrescentou: “O viés de postergação dos cortes da Selic está diretamente ligado à fragilidade fiscal. Sem medidas críveis de revisão de gastos, o Banco Central deve se manter cauteloso”.