A era da inteligência artificial (IA) não está apenas moldando o futuro da tecnologia, mas também reconfigurando o mapa geopolítico global. Para Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a revolução dos dados traz uma exigência pouco discutida: energia, muita energia — e com ela, uma nova visão sobre a transição energética.
“Apesar de estar na nuvem, a IA é uma tecnologia profundamente dependente do mundo físico“, afirma Pedro, em entrevista ao programa Strike, da BM&C News. Segundo ele, os data centers já consomem cerca de 1,5% de toda a energia global, e a tendência é de crescimento exponencial. Com o avanço da IA, esse consumo pode triplicar, superando inclusive o consumo de países como o Japão.
Do discurso à realidade: a transição energética virou adição energética
Na análise de Pedro, a narrativa global de substituir fontes fósseis por renováveis precisa ser revista. “Estamos em uma era de adição, não de troca. Vamos precisar de todas as fontes energéticas e, de preferência, com segurança e baixo impacto ambiental“. Ele defende o uso combinado de energia solar, eólica, nuclear, hídrica, gás natural e biomassa como caminho para sustentar a nova demanda.
Brasil: protagonista com infraestrutura precária
O Brasil, dono de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, tem potencial para liderar essa nova corrida. No entanto, esbarra em gargalos estruturais: rede elétrica obsoleta, dificuldades logísticas, burocracia excessiva e insegurança jurídica.
“Não adianta termos energia limpa se não temos infraestrutura para transportar e distribuir com eficiência. Nenhum data center no mundo funciona com 100% de energia renovável. Eles precisam de estabilidade e previsibilidade.“
Pedro critica a estratégia de tentar atrair data centers por meio de subsídios. “É repetir o erro de décadas passadas, como fizemos com a indústria automobilística. O problema não é incentivo, é a falta de solução para a origem do gargalo: infraestrutura, licenciamento, marcos regulatórios.“
A disputa por energia se tornou um capítulo central na guerra comercial e tecnológica entre Estados Unidos e China. Enquanto os chineses operam data centers à base de carvão, os americanos apostam em microrreatores nucleares e soluções descentralizadas para garantir suprimento estável.
“O futuro será guiado por elétrons. Quem dominar a matriz elétrica vai liderar a economia de dados e, por consequência, a nova ordem mundial.“
COP 30 será teste de pragmatismo energético do Brasil
Com a COP 30 marcada para Belém, o Brasil terá a oportunidade de se apresentar como um exemplo de matriz limpa — mas precisa ir além do discurso. “Temos que mostrar nossas vantagens e encarar nossos desafios. Transição energética precisa de realismo: energia limpa sim, mas com licenciamento eficiente e infraestrutura robusta.“
Sem energia, não há IA: o dilema da transição energética
Para Pedro Rodrigues, a inteligência artificial será o novo motor da economia, como foram o petróleo e a internet. Mas sem resolver o desafio da transição energética, o crescimento pode travar. “A IA cresce de forma exponencial. O fornecimento de energia ainda é linear, lento, caro. Esse descompasso é o grande desafio do nosso tempo.“
















