O SoftBank concluiu a venda de toda a sua participação na Nvidia, arrecadando US$ 5,83 bilhões para financiar novos investimentos em inteligência artificial. A decisão ocorre em um momento em que a chamada “guerra dos chips” se intensifica entre Estados Unidos e China, redefinindo o equilíbrio de poder global em torno da tecnologia.
O fundador Masayoshi Son busca liquidez para projetos de grande escala, como data centers do projeto Stargate e fábricas de robôs de IA nos Estados Unidos. Segundo o diretor financeiro Yoshimitsu Goto, a venda não tem relação direta com a Nvidia, mas visa ampliar o financiamento das iniciativas em IA.
SoftBank e Nvidia: a guerra dos chips e a nova disputa por poder
A chamada “guerra dos chips” não é uma disputa comercial tradicional. Trata-se de uma corrida estratégica por soberania tecnológica, onde o controle sobre os semicondutores significa dominar os algoritmos, a defesa, os dados e o ritmo da inovação. Em outras palavras, quem controla os chips controla a inteligência do século XXI.
Enquanto a China acelera a verticalização da sua cadeia de produção tecnológica, os Estados Unidos optaram por uma estratégia de reconstrução defensiva. Após décadas de terceirização, o país decidiu reerguer sua base industrial com o CHIPS Act, programa que destina centenas de bilhões de dólares à produção doméstica de semicondutores.
O plano busca proteger gigantes como Nvidia e Intel, além de garantir que Taiwan permaneça como o principal polo de microeletrônica global. A lógica é clara: o custo de recuperar a soberania tecnológica hoje é menor do que o custo de perdê-la de forma definitiva.
Um novo mapa do poder tecnológico
Com a venda das ações da Nvidia, o SoftBank reforça seu caixa para participar da corrida global da inteligência artificial. O movimento ocorre no epicentro de uma disputa geopolítica que vai muito além do comércio, trata-se de quem comandará a infraestrutura digital do século XXI.
De acordo com o economista Fabio Ongaro, CEO da Energy Group e vice-presidente de finanças da Câmara Italiana do Comércio de São Paulo (Italcam), a guerra dos chips escancara uma nova hierarquia global: energia, dados e tecnologia tornaram-se os eixos centrais do poder econômico moderno. E, nesse contexto, o desafio do Brasil será transformar potencial em protagonismo.
Ele destaca que o Brasil possui ativos valiosos, mas ainda carece de uma estratégia industrial conectada a essa nova economia. “O Brasil possui energia limpa em escala, minérios estratégicos e estabilidade institucional. Mas a pergunta incômoda é: estamos transformando esses ativos em poder industrial, ou continuamos apenas como fornecedor de matérias-primas?”, questiona.