Nos últimos anos, o uso da inteligência artificial em estratégias de comunicação política cresceu de maneira exponencial no Brasil, transformando significativamente a forma como partidos e grupos de interesse se posicionam e engajam o público. Recentemente, movimentos digitais protagonizados por partidos como o PT e figuras da oposição demonstraram que a tecnologia se consolidou como elemento central no debate público, especialmente diante de episódios de repercussão nacional, como a discussão em torno do aumento do IOF e de pautas tributárias voltadas à taxação dos mais ricos.
Com ferramentas de geração de conteúdo cada vez mais acessíveis, vídeos e imagens produzidos por algoritmos têm sido compartilhados em massa nas redes sociais, operando como instrumentos de rápida resposta a acontecimentos políticos. O baixo custo e a facilidade dessas soluções contribuem para que atores de diferentes esferas lancem campanhas em tempo recorde, dirigindo mensagens diretas e estratégicas para diferentes públicos, e potencializando seu alcance nos ambientes digitais.
Como a Inteligência Artificial revolucionou as campanhas digitais?
O acesso a plataformas de IA simplificou o processo de produção de conteúdo político, permitindo a criação de vídeos e imagens sintéticas em questão de horas, muitas vezes sem a necessidade de grande expertise técnica. Esses recursos, explorados por perfis oficiais de partidos, influenciadores e militantes, impulsionam narrativas de disputa e facilitam a propagação de mensagens polarizadoras, como a ideia de “pobres contra ricos”, presente em campanhas recentes.
Além disso, o uso de IA facilita o engajamento em debates digitais em tempo real. Quando medidas legislativas ou decisões de líderes políticos provocam reações imediatas, as equipes de comunicação conseguem responder rapidamente, gerando materiais que viralizam em diferentes plataformas. Assim, a inteligência artificial não só barateia o acesso à comunicação de massa, como também amplia a capacidade de resposta, tornando os debates mais dinâmicos e competitivos.
Quais são os riscos do uso da inteligência artificial na política?
A disseminação acelerada de conteúdos criados artificialmente levanta preocupações importantes em relação à desinformação. Especialistas alertam para o perigo dos chamados deepfakes e de peças enganosas que podem distorcer fatos e afetar a reputação de figuras públicas. A ausência de uma sinalização clara sobre a origem desses materiais gera dúvidas sobre a autenticidade das informações e dificulta o controle sobre mensagens manipuladas.
Com a aproximação de eleições e o aumento da temperatura dos debates, órgãos como o Tribunal Superior Eleitoral passaram a estabelecer regras para o uso de inteligência artificial em campanhas eleitorais, determinando que sua utilização seja explicitamente informada e proibindo práticas que possam configurar difamação ou distorção da realidade. No entanto, em períodos fora do calendário eleitoral, questões relacionadas a excessos ou ofensas migram para a esfera da justiça comum, tornando o acompanhamento mais fragmentado.
Como as campanhas políticas estão utilizando a IA nas redes sociais?

Atualmente, o ambiente digital é marcado por uma forte presença de vídeos, montagens e memes baseados em inteligência artificial, frequentemente usados para criticar opositores, satirizar eventos políticos ou enaltecer projetos defendidos por determinados grupos. Usuários de plataformas como TikTok e X (ex-Twitter) compartilham conteúdos que exploram linguagens acessíveis e aproximam o discurso dos cidadãos, reforçando identidades de grupo.
- Produção de sátiras e paródias com políticos e decisões legislativas;
- Divulgação de campanhas temáticas, como as de taxação de grandes fortunas;
- Respostas rápidas a movimentos contrários, adaptando argumentos conforme o debate avança;
- Uso de montagem de imagens e vídeos para ilustração de dados ou fatos políticos.
A orientação para a criação de material próprio por influenciadores e militantes, sem depender apenas da estrutura central dos partidos, contribui para uma descentralização da produção de conteúdo, o que, por um lado, amplia o alcance das mensagens e, por outro, pode dificultar o controle sobre eventuais abusos ou difusão de notícias falsas.
O que está em jogo com a popularização da IA nas disputas políticas?
A crescente integração da inteligência artificial nos embates políticos evidencia tanto o potencial de modernização das campanhas quanto a necessidade de fortalecer mecanismos de responsabilização e checagem de fatos. A capacidade de influenciar percepções, pautar discussões e mobilizar grupos sociais faz da IA uma ferramenta estratégica, que exige atenção de autoridades, instituições de controle e da sociedade civil.
Com a tecnologia se tornando parte do cotidiano da política, especialistas sinalizam a importância de combinar inovação com responsabilidade, garantindo que o debate público permaneça plural e ancorado em informações verídicas. O desafio para os próximos anos será equilibrar as oportunidades trazidas pela inteligência artificial com a proteção contra riscos à democracia e à integridade das informações compartilhadas no espaço digital.